Não canso de me espantar com o povo da Islândia. Parece que nesta pequena ilha (tão distante daqui), a democracia e a transparência são de fato levadas a sério. Primeiro, o referendo popular contra o uso de dinheiro público para indenizar bancos (cf. '
O "não" do povo da Islândia'). Agora, a incrível notícia de que o governo da Islândia está utilizando o Facebook para reescrever a sua Constituição em conjunto com os cidadãos islandeses - fenômeno que o
The Guardian chamou de
crowdsourcing.
Thorvaldur Gylfason, professor de Economia da Universidade de Islândia e membro do
Conselho Constitucional islandês, afirmou que "
pela primeira vez, uma Constituição está sendo escrita pela internet". Na Islândia, o projeto tem tudo para dar certo. O Conselho Constitucional, formado por 25 representantes e responsável por elaborar um texto prévio, conta com as críticas e sugestões diretas dos islandeses através do Twitter e do Facebook (
veja a página aqui). Há também um
blog, onde
Indridi H. Indridason, professor de Ciência Política da Universidade da California (Riverside) comenta os debates do Conselho Constitucional. A população, que não passa dos 400 mil, possui formação educacional de qualidade e amplo acesso à internet. Desse modo, pode opinar diretamente e legitimar o trabalho dos representantes.
A notícia da "revolução democrática islandesa" repercutiu no mundo todo. Na
Colombia, Ramón Maya, professor de Ciência Política da Universidade Bolivariana comemorou: "
Estamos en una nueva era política. La utilización de la tecnología y de las redes sociales cambiaron el perfil del ciudadano pues le dieron más posibilidades de comunicar cosas".
No Brasil, pouco se falou. Apenas hoje - quase um mês após a matéria do jornal inglês supracitado - foi publicada uma matéria na
Carta Capital on-line sobre o assunto. Nela, Henrique Antoun (UFRJ) destaca que o fato de a Islândia ser um país pequeno facilita tudo: “
Seria mais complicado um país com as dimensões do nosso uma discussão dessa. É muito mais discutido do que um projeto que fica à mercê de reapresentantes, deputados, vereadores e senadores. Agora a internet tornou, não obsoleta, mas secundária, essa necessidade de representação. Porque você pode se representar através do sistema. E é um sistema que não maquia a participação. Todo mundo que está ali, se sente representado. Todo mundo tem voz".
Independentemente do tamanho do país, a Islândia foi capaz de ensinar duas lições ao mundo todo: (i) que é possível dizer não à bancocracia que se instala no pós-capitalismo e que (ii) as velhas formas de representação são obsoletas frente à possibilidade de democracia substantiva através do aparato tecnológico disponível hoje.
Na
página do Facebook, pessoas do mundo inteiro elogiam a iniciativa da Islândia. É possível ler mensagens de cidadãos do Chile, Espanha, Argentina, Brasil, Tunísia, Estados Unidos da América, entre outros. Obviamente, a língua utilizada nesses recados é a inglesa, que os islandeses bem dominam.
Como bem disse um jovem de vinte anos da Coréia do Sul chamado
Mino Choi, "
vocês estão dando ao mundo a inspiração de uma nova democracia". Um outro canadense (
Dylan Robinson), ainda estudante do ensino médio, completou: "
Eu espero que seu exemplo inspire todos os cidadãos do mundo, fazendo com que nós todos tenhamos consciência de que temos voz, de que todos nós podemos contribuir e trabalhos juntos para construir uma sociedade justa e equitável para todos".
Precisa dizer mais?
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