A foto acima retrata um momento importante para a literatura maringaense, carente de identidade e grandes autores: o lançamento do livro Nihonjin, de Oscar Nakasato (eis a sinopse: "Hideo Inabata é um japonês orgulhoso de sua nacionalidade, que chega ao Brasil na segunda década do século 20 com o objetivo de enriquecer e cumprir a missão sagrada de levar recursos ao Japão, conforme orientação do imperador. O trabalho no campo, a adaptação ao Brasil, a morte da primeira esposa e os conflitos com os filhos Haruo e Sumie são um teste para a proverbial inflexibilidade do nihonjin (japonês). O narrador, neto do protagonista e filho de Sumie, empresta voz e visão contemporânea à transformação do avô e do seu sonho de voltar rico para casa").
Desde seu lançamento, em maio de 2011, a obra tem colecionado vitórias: além de ter vencido a primeira edição do "Prêmio Benvirá de Literatura", superando quase dois mil concorrentes, Nihonjin está entre as obras mais vendidas em São Paulo.
O motivo do sucesso de Nihonjin é óbvio: são poucos romances de qualidade que retratam a saga migratória dos japoneses no Brasil e abordam a questão da identidade (o que é ser japonês para o imigrante?) com base numa boa história. Os paulistanos, especialmente os descendentes de japoneses que habitam no Liberdade, encontraram ali uma história sóbria, sem folclorizações. Como escreveu Marília Kubota: "Se você for nikkei e ler o romance Nihonjin, de Oscar Nakasato, terá uma sensação imediata de identificação. Afinal, que descendente de japonês não reconhece a história que ele conta, protagonizada por um imigrante japonês de rígida personalidade?"
A obra foi bem avaliada pelo crítico literário Gilberto Araújo. Destaco o trecho a seguir: "No romance, tudo é migratório: famílias, espaços, crenças, valores e identidades. O narrador-protagonista examina fotografias antigas, consulta fontes históricas e ouve recordações do avô, Hideo Inabata, e do tio Hanashiro, com o nítido desejo de avistar contornos para si próprio; não por acaso, é o único personagem não nomeado. A primeira figura evocada é Kimie, ex-mulher do “ojiichan” (avô). Frágil e sonhadora, ela não se adequa à dura rotina de trabalho no cafezal. Ao constatar que não neva no Brasil, enlouquece e morre, em cena de pungente lirismo. Hideo, por sua vez, compensa a distância geográfica pelo culto exacerbado da nação: o Imperador, o trabalho, a família, o patriarcado e a xenofobia alicerçariam o purismo nipônico. Às vezes, a reiteração dessa inflexibilidade soa excessiva: “E seguiria assim, em terra estrangeira, empunhando a enxada, rasgando a terra, fincando mudas”. Além disso, a ânsia (louvável) de conferir voz a seres silenciados (expressa no título: “nihonjin” significa japonês em japonês) reduz os personagens à materialização de idéias e sentimentos: “O que me deixa apreensivo é que lavraremos uma terra alheia, estrangeira, e obedeceremos às ordens dos donos dessa terra, que não conhecemos”. O esquematismo relembra, em forma e função, os diálogos coloniais escritos pelo Padre Manuel da Nóbrega e por Ambrósio Fernandes Brandão, ou ainda as conversas de Milkau e Lentz em Canaã, todos interessados em dramatizar percalços da alteridade. Diferentemente de Oswald, comprazido em macaquear os japoneses tateando o português, Oscar Nakasato, ao examinar internamente suas hesitações lingüísticas, afasta-se da folclorização. Em contrapartida, na transcrição de uma cantiga de negros, recorre ao decalque (“coiêta”, “dipindurado”, “muié”), talvez para reforçar a confusão dos nipônicos. Os graus de parentesco (pai, mãe, avô e avó) e as nacionalidades (o que não é “nihonjin” é “gaijin”), dois pilares da ortodoxia oriental, são grafados em japonês, transcrito em alfabeto latino. Os vocábulos não recebem aspas nem itálico, como se, porosas como as identidades, as palavras estrangeiras se fizessem vernáculas".
Alexandre Gaioto escreveu uma excelente matéria sobre a obra, explicando a história pessoal de Oscar e a forma como o autor concebeu a obra (veja aqui).
Confesso que ainda não terminei de ler Nihonjin. Tenho em mãos uma cópia gentilmente autografada pelo autor (o conheci no The View Bar em São Paulo), mas somente após finalizar a obra é que posso me arriscar a fazer alguns comentários. Por enquanto, destaco as críticas e a repercussão da obra nesses primeiros quatro meses. O objetivo do texto é modesto: incentivar a leitura.
Aliás, alguém já desfrutou as linhas de Nakasato?
Aliás, alguém já desfrutou as linhas de Nakasato?
Zanatta:
ResponderExcluirObrigado pelos comentários tão gentis... Espero que os mantenha após a leitura do romance. Abraços. Oscar