Apesar de pouco noticiado pela mídia brasileira -- ainda centrada no eixo Rio-São Paulo --, o Paraná registrou no mês de fevereiro um novo capítulo de sua história política. Em meio a greves gerais anunciadas por quase todas as instituições públicas de ensino no Estado, milhares de professores e servidores públicos se organizaram e tomaram as ruas de Curitiba. O motivo: evitar severas limitações de recursos destinados à educação pública no Estado, incluindo a adoção do regime de previdência complementar para servidores públicos (entenda aqui).
Na quinta-feira (12/02), durante a votação de um pacote de medidas de austeridade arquitetado por Beto Richa (PSBD), os professores paralisaram a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná e interromperam a votação do chamado "pacotáço". Como relatado por Rogério Galindo, da Gazeta do Povo, os deputados chegaram para a deliberação em ônibus da tropa da choque. O clima era de extrema tensão. Pela primeira vez, os representantes sentiram medo do povo.
Após uma mobilização contra Beto Richa muito bem estruturada por parte dos sindicatos, os professores ocuparam a Assembleia Legislativa, forçando uma manobra interna dos deputados para "avaliar com mais tempo o teor do projeto de lei". Segundo o professor Hermes Silva Leão (presidente da APP Sindicato), a ocupação ocorreu "para impedir que os deputados votassem em Comissão Geral, numa vez só, projetos que desmontam direitos que levamos mais de 30 anos para conquistar".
Logo após a inédita "revolta do giz", o governo recuou e apresentou nova proposta de limitação de benefícios e progressão na carreira de professores (ver quadro explicativo aqui). Ainda não é certo quais serão as consequências da vitória dos professores na batalha de quinta-feira. O que é notável é que a paralisação do "pacotáço" fortaleceu a capacidade de organização dos professores e desgastou o capital político de Richa com sua própria base aliada.
A "revolta do giz" uniu professores de todos os sexos e idades. Foi um grito de basta e indignação contra um governo que prometeu ampliar recursos à educação, mas que apunhalou os servidores pelas costas, chegando até mesmo a cancelar concursos públicos de professores que se preparavam para assumir a nobre missão de docência em escolas públicas do Paraná.
Segundo os professores, a luta não acabou. Tem circulado uma mensagem nas redes sociais ressaltando seis pautas imediatas: (i) reestruturar as escolas que perderam 30% dos funcionários e serviços gerais; (ii) lutar contra o fechamento de turmas e superlotação; (iii) lutar para a demanda de dezembro de 2014 para pedagogos, turmas e turnos; (iv) resgatar as direções auxiliares; (v) lutar para que mais de 1.000 concursados convocados para escolher aulas em dezembro tomem posse; e (vi) lutar por verbas atrasadas e que novas sejam repassadas em dia.
Obviamente, a pauta dos professores paranaenses é maior que essa lista. Há inúmeros relatos de docentes em pequenas cidades do Estado sobre a dispensa de professores, corte de recursos e bloqueio de progressão de carreira (lesão de um direito garantido). Não é por acaso que uma professora de Itambé, Adriana Possobom Oliveira, manifestou-se com indignação: "O governo quer tirar 8 bilhões que pertencem à aposentadoria dos servidores para pagar contas do Estado. Será que consideram essa situação normal? É a educação que tem que ser penalizada, enquanto os gastos com cargos de confiança, com propagandas e altos salários dos deputados e governo somente aumentam?".
É esse cenário turbulento que gerou os protestos de quinta-feira em Curitiba. Os professores paranaenses deram o seu recado: a opressão tem limites. A educação pública não será lesada para equilibrar os déficits do governo do Estado. A questão agora é saber como que o governador -- e também os professores de todo o Brasil -- vão reagir aos acontecimentos dessa semana. Segundo os professores, a luta continua.
Rafael,
ResponderExcluirO que aconteceu em Curitiba foi a demonstração de que se as pessoas se unem em prol de uma causa elas conseguem ser ouvidas. Os professores do Paraná estão de Parabéns!!! Precisamos agora deixar mais claro aos paranaenses a importância da Educação pública de qualidade e chamar mais pessoas nessa corrente. Obrigada pelo texto, quanto mais informação, mais diálogo.
Faço apenas um adendo.
ResponderExcluirA professora Maria Luisa Furlan Costa discorda de um ponto do texto. Em suas palavras, "o autor diz que a mobilização dos professores têm sido pouco noticiada na mídia nacional porque estamos fora do eixo Rio-São Paulo. A meu ver o movimento não aparece porque o governador é do PSDB. Se fosse PT aposto que tudo seria bem diferente".
Acho a provocação interessante. Tendo a concordar com a suposição. Preferi não entrar nesse debate para não tocar em pontos hipotéticos. No entanto, é uma discussão que vale a pena ser feita.