Brasil: do jeito que o mercado gosta

Se o dia 5 de agosto de 2011 ficou marcado como o dia em que os Estados Unidos perderam sua hegemonia, tal como afirma o editor-chefe da seção de economia do jornal The Guardian Larry Elliot ao analisar o rebaixamento da qualificação de risco do país pela agência Standard & Poor's (de AAA para AA+), o dia 30 de abril de 2008 também ficou marcado como o dia em que o Brasil entrou na lista do "investment grade", recebendo a conhecida agência de qualificação de risco a nota BBB+ para os títulos da dívida brasileiros em moeda nacional e BBB- para os emitidos em moeda estrangeira.

Na época, a notícia foi comemorada. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse: "A obtenção do grau de investimento consolida as mudanças estruturais ocorridas na economia brasileira nos últimos anos. A estabilização da inflação em níveis internacionais, a geração de superávits comerciais elevados, o acúmulo de reservas internacionais e, finalmente, a elevação do volume de investimentos públicos e privados resultam em novo padrão de crescimento econômico e de inserção internacional da economia brasileira". A Bolsa de Valores reagiu no mesmo dia e subiu mais de 5%, reverberando a credibilidade demonstrada pela Standard & Poor's.

Nesta quinta, em meio a uma das mais graves crise econômicas experimentadas no capitalismo pós-revolução industrial (que loucura esse ano, não?), veio mais uma notícia de que o mercado está confiante com as políticas de estabilização macroeconômica no país. Em comunicado oficial, a Standard & Poor's informou que elevou o rating de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil de BBB- para BBB, com perspectiva estável. Após o anúncio da S&P, o Ministério da Fazenda divulgou nota em que avalia que a decisão é um "reconhecimento de que a política econômica encontra-se na direção correta e de que são sólidos os fundamentos macroeconômicos do país". Agora o país fica assim na "escala" do risco de investimento:


A poderosa agência - responsável por definir o "investment grade" capaz de atrair grandes investidores de países desenvolvidos que, por regras dos seus estatutos, só podem investir em ativos considerados de baixo risco - elogiou a equipe econômica do governo Rousseff: "Esperamos que o governo persiga políticas monetária e fiscal cautelosas que, combinadas com a resiliência do crescimento econômico do país, devem moderar o impacto de potenciais choques externos e sustentar as perspectivas de crescimento de longo prazo".

O Brasil agora apresenta um cenário de investimento mais próspero (leia-se: potencialmente lucrativo e com menor risco para os investidores motivados racionalmente) que o de Portugal, Índia, Turquia, Marrocos, Islândia (que desafiou o sistema financeiro ao anunciar o calote legitimado por plebiscito) e a Grécia, país notadamente sem perspectiva de cumprir com suas obrigações financeiras (foi preciso um "haircut" de 50% na dívida pelo Banco Central Europeu).

A notícia não causou espanto. A Moody's, outra importante agência de qualificação de risco, já havia elevado a nota do Brasil em junho de 2011. De qualquer forma, tal fato implica em duas conclusões preliminares: (i) que o Brasil está menos vulnerável a riscos externos, e que (ii) o Ministério da Fazenda está cumprindo a qualquer custo com a lição de casa imposta pelos economistas das instituições financeiras internacionais (incluindo a manutenção do superávit primário em torno de 3% do PIB, que permite maior flexibilidade à política monetária para a execução de medidas de caráter anticíclico).

Tudo gira em torno da manutenção de políticas macroeconômicas prudentes. Só esqueceram de avisar que o prudente é sempre prudente para alguém.

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