Carta para Antonio

Polyptych M, Alberto Biasi (1968) - WikiArt

 

Olá, Antonio.

Esta é mais uma daquelas cartas que escrevo em seu aniversário. É uma espécie de tradição simples, eu sei, mas continuo insistindo nessa prática. Não fui regular em todos os anos e peço desculpas por isso. Mas acredite: todo dia três de outubro eu penso que deveria te escrever, mesmo estando com você diariamente. O tempo todo.

Os últimos dezoito meses não foram nada fáceis. Nós enfrentamos, juntos, uma das piores pandemias dos últimos tempos. Muitas pessoas não estão mais aqui. Você verá nos livros de História o que ocorreu. Os detalhes não importam muito neste momento. Nós sobrevivemos e isso me enche de alegria. Nós ficamos juntos o tempo todo, nos momentos mais difíceis. E isso para mim foi uma oportunidade incrível de te conhecer ainda mais.

Você tem se mostrado um menino extremamente inteligente, curioso e explorador. Nos últimos meses você passou a se apresentar como cientista. Acho isso maravilhoso. Sua atitude com o mundo é realmente científica, na boa ciência das crianças. Você questiona, quer saber o por quê, fica encantado com a existência dos dinossauros e o surgimento dos planetas.

Você me faz perguntas realmente difíceis. Semana passada você perguntou o que acontecerá quando o Sol morrer. Se nós morreremos juntos. Você perguntou se a vida acabaria com a morte do Sol, nossa maior estrela. Você gosta bastante da palavra hipótese e muito me anima o fato de você saber que é uma resposta provisória que pode ser testada.

Algumas perguntas são profundas e talvez não tenhamos as condições de testá-las. O importante é você continuar a fazê-las. Dizem que um menino muito curioso chamado Albert também gostava de fazer esses tipos de perguntas e pensar sobre o universo e a vida. Ele já não vive mais, mas suas perguntas continuam por aí. Você provavelmente vai saber bastante sobre ele quando crescer.

Hoje nós fizemos uma festa muito especial para comemorarmos seu aniversário de cinco anos, mesmo sem podermos convidar amigos e pessoas queridas para estarem conosco, como seus avós, tios e amigos da escola. Ainda estamos na pandemia e não podemos fazer festas como fazíamos antes. Também choveu muito. Muita água caiu do céu acompanhada de fortes clarões e alguns ventos fortes. Você fez uma lista das coisas que queria em sua festa. A lista continha coxinha, brigadeiro, bolo de chocolate (com cobertura de chocolate!), piscina de bolinha, cama elástica e balões de três cores. E veja só que alegria: teve tudo isso!

Você brincou, pulou, correu e deu sorrisos lindíssimos, sempre acompanhado de seu irmão Francisco. Você estava muito feliz. Ainda mais pelos presentes de dinossauros e um quebra-cabeça sobre o Universo. 

Os nossos amigos, Bruno e Rannah, disseram que o quebra-cabeça era para meninos de seis anos, mas eles acreditavam que você já era inteligente o suficiente para montá-lo. Eu também acho isso. Te acho muito inteligente e criativo. Você sempre foi.

No final da festa, você me convidou para pular contigo na cama elástica e depois relaxar na piscina de bolinha. Nós ficamos abraçados e eu te cobri de bolinhas, que pareciam planetas. Você parecia um sistema solar coberto de mundos, todos seus.

Construa sempre seu mundo, não deixe que diminuam sua curiosidade e seja feliz. É o que desejo hoje e sempre.

Um beijo do seu pai.

Rafael

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