Onde são produzidos os iPhones do cultuado (e falecido) Steve Jobs? Incrível como essa simples questão é ignorada nas reportagens sobre a Apple, localizada na Califórnia. Se você tem um produto da badalada empresa de Jobs, faça o teste. Olhe para a parte de trás do seu aparelho. Lá está a inscrição assembled in China.
Os celebrados iPhones da Apple são produzidos por trabalhadores chineses, apesar da empresa ser taiwanesa. Essa grande fábrica se chama Foxconn, que inclusive tem planos de instalar uma "cidade inteligente" no interior do Brasil para produzir iPads, iPhones e outros aparelhos.
Ontem mesmo foi publicada uma notícia que dizia o seguinte: "os dirigente da Foxconn, multinacional taiwanesa que planeja investir US$ 12 bilhões na construção de um fábrica de touch screen para tablets, vem ao Brasil na próxima semana para rodadas de negociação em Brasília. Uma das propostas que será analisada pelos executivos é a do Paraná. O documento paranaense traz a oferta de uma área no eixo Londrina – Maringá como opção para receber o empreendimento e o detalhamento sócio-econômico do estado. O texto foi entregue há cerca de um mês para o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que encabeça as negociações".
Mês passado tive uma conversa com meu ex-orientador e amigo Paulo Roberto de Souza, professor de direito da Universidade Estadual de Maringá. Ele me explicou em detalhes a dinâmica de produção da Foxconn, que utiliza turnos ininterruptos para suprir a demanda de produção, numa cidade da região de ShenZhen, sudoeste da China. A empresa emprega mais de 300.000 pessoas, quase todas migrantes de outras regiões chinesas. Assim como na filial de LongHua, sul da China, a cidade é a fábrica, nada mais. A prestação de serviços e comércio gira em torno da fábrica, que monta grande parte dos iPhones consumidos no mundo todo. Os trabalhadores são todos jovens de 20 a 30 anos, sem maiores perspectivas de vida. As taxas de suicídio nas "cidades-iPhone" são altas (cf. 'Rohan Price, Chinese Factory Deaths and Low Wages: is no choice really a choice?'), apesar de serem mascaradas pela mídia local e não superarem em muito a média nacional, que é elevada (talvez reflexo do novo metabolismo social chinês).
A ideia dos dirigentes da Foxconn é estruturar essas "cidades-fábrica" em outras regiões além da China, como o Brasil. E as razões são várias: incentivos fiscais, mão de obra barata e pouco conflituosa - considerando que nos últimos três anos a China experimentou diversas greves e protestos trabalhistas, o que resultou numa nova legislação que garante padrões mínimos de trabalho e fiscalização intensa pelo governo (cf. Ming-Yuan Hsieh e Chaang-Yung Kung, 'How Low-Paid Advantage of Chinese Factory Disappeared After the Explosion of Labour Revolution?') - e posição estratégica para transporte.
É provável que seja mais lucrativo explorar os trabalhadores brasileiros por alguns anos. Afinal, qual o nível de treinamento necessário para trabalhar montando peças pré-fabricadas de um gadget como o iPad? Testar um aparelho eletrônico não seria uma espécie de trabalho operário com elementos de trabalho imaterial? Quem são esses trabalhadores?
Paro por aqui minhas reflexões e deixo um documentário sobre os atores sociais inseridos neste novo modelo de produção. É um filme curto que vai direto ao ponto: mostra as visões de mundo dos jovens responsáveis por montar os aparelhos que boa parte dos consumidores do Ocidente utilizam no seu dia-a-dia. O que desejam essas pessoas de olhos puxados? Será que um dia elas terão ciência do papel sistêmico que desempenham?
Dreamwork China from Cineresie on Vimeo.
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