O mundo do rock pós-U2: Kings of Leon e Coldplay

Em 1987 o mundo estava aos pés da banda irlandesa U2. Paul Hewson, mais conhecido como "Bono Vox", o odiado e idolatrado líder do grupo, estava em plena potência vocal (veja Bad, ao vivo Paris). The Edge, guitarrista e gênio subestimado, havia revolucionado a forma de se fazer rock no pós-punk, adicionando efeitos como delay para criar um novo tipo de ambientação sonora. Lary Mullen Jr. (baterista) e Adam Clayton (baixista) mantiam uma base simples, sem técnica, que caracterizou o som do U2.

A banda lotava estádios e vendia milhões de discos da Europa, nos Estados Unidos, na América Latina e na Ásia. O disco The Joshua Tree havia sido aclamado pela crítica como um disco cinco estrelas. O U2, definitivamente, estava no auge da carreira, iniciada em nove anos antes, em Dublin.


Enquanto isso, em duas cidades pelas quais o U2 passou em turnê, Londres (Inglaterra) e Nashville (Tennessee, USA), cresciam os pequenos Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman, Will Champion e os primos Caleb, Nathan, Jared e Matthew Followill.

O U2 saiu de cena como o maior nome do mainstream, abrindo espaço para diversas bandas que levaram uma sonoridade mais pesada ao universo rock, como o Nirvana e o Pearl Jam nos EUA. Outros grupos revitalizaram o rock setentista, como o Oasis, na Inglaterra. Mas nenhum grupo assumia a posição de maior banda de rock do mundo, como o U2 havia feito na década de oitenta.

Os anos 2000, com suas revoluções tecnológicas (música em formato MP3, internet, computadores pessoais) chegaram rompendo com o paradigma do independente. Afinal, o que seria indie e mainstream em tempos modernos de livre compartilhamento de música? Bandas como Radiohead e Strokes assumiram a posição de líderes do rock, na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas nenhuma logrou sucesso em longo período.

Enquanto isso, surgia em Londres o Coldplay, com seu brilhante album debut Parachutes (2000), muito bem recepcionado pela crítica e pelo público em geral. Um disco coeso, emotivo, com guitarras bem arranjadas (os bends de "Yellow" são simples e geniais) e pianos delicados. Chris Martin lembrava até Jeff Buckley em seus falsetes e letras.

Em 2002, a banda inglesa lançou o disco A Rush of Blood to the Head, com singles arrebatadores como "Clocks", "The Scientist" e "In My Place". A partir daí, o Coldplay deixou de ser visto como uma banda universitária londrina. A Rolling Stones os escolheu como banda do ano e a crítica inglesa votou no disco como o melhor de 2002. Definitivamente, faziam parte do mainstream.

Do outro lado do Oceano Atlântico, em Nashville, Tennessee, surgia um grupo que mais parecia uma história inventada pra chamar atenção. Três irmãos (dois deles, barbudos) e um primo, filhos de um pastor bêbado, que haviam crescido sob rígida educação e que tinham aprendido a tocar na igreja. Era o Kings of Leon, com seu rock de garagem completamente influenciado por Creedence Clearwater Revival e outros sons da região.

Em 2003, após serem descobertos na cena local, tiveram o disco de estreia lançado: Youth and Young Manhood. O reconhecimento veio na hora. O New Music Express resenhou o disco como um dos dez melhores discos de estreia da década e a Rolling Stones escreveu que o Kings of Leon estava ali para revitalizar o bom e velho rock. A banda ficou conhecida pelo hit "Molly's Chamber" e outras canções como "Red Morning Light" e "California Waiting".

Um ano depois, o Kings lançou o segundo disco, Aha Shake Heartbrake, mantendo a sonoridade ainda parecida com o disco de estreia ("Pistol of Fire", "Slow Night, So Long", "King of the Rodeo" são ótimas canções desse álbum). O grupo chamou a atenção do U2, que os convidou para a turnê Vertigo em 2005 nos Estados Unidos. A banda aceitou o convite e passou a abrir os shows do grupo irlandês.

Em 2005, o Coldplay lança o disco X&Y, sendo o disco mais vendido do ano. "Speed of Sound" e "Talk" foram os carro-chefe do álbum que consagrou o Coldplay como um dos nomes da década no rock. Entretanto, as comparações entre a banda e o U2 eram cada vez mais constantes, devido às melodias do grupo, os efeitos em delay da guitarra de Buckland e o vocal falsetado de Martin, juntamente com seu ativismo político-social. O New York Times chegou a chamar o Coldplay de "banda mais insuportável da década", enquanto que o Coldplay anunciou na Rolling Stones: "nós queremos ser maiores que o U2". Por coincidência, o grupo foi convidado para tocar no Live 8 no Hyde Park e tocaram justamente depois do grupo de Bono e Edge.

Quanto ao Kings of Leon, ficou a impressão de que a turnê com o U2 provocou grandes mudanças na sonoridade da banda. Em 2007 lançaram o disco Because of the Times, rompendo completamente com o som setentista de garagem dos dois primeiros discos. "On Call", "Knocked Up", "Arizona" e "Fans" mostrou uma banda muito mais experimental, utilizando diversos efeitos de recurso, bem como um som mais introspectivo. O resultado? Aclamado pela crítica como o melhor álbum da banda, enquanto alguns fãs se decepcionaram com o "novo" Kings of Leon.

A mídia em geral começa a abrir os olhos para os americanos do Kings of Leon, mas a banda ainda não atinge o patamar de uma das maiores do mundo, possível que estava quase nas mãos do Coldplay.

Em 2008, superando (ou ignorando) as comparações com o U2, o Coldplay decide convidar Brian Eno para produzir o seu quarto álbum. Justamente Eno, que produziu cinco álbums da banda de Bono (The Joshua Tree, Achtung Baby, Zooropa, All That You Can't Leave Behind , e No Line on the Horizon). Após muito mistério, disponibilizaram na internet o single "Violet Hill", com distorções de guitarra e uma ambientação com a cara de Brian Eno. A música teve recorde de downloads e o disco Viva La Vida (que tem aquela incrível capa da pintura A Liberdade Guiando o Povo, de 1830) estreou como número um das paradas britânicas. "Lost" e "Lovers in Japan" marcam bem o novo som da banda, com simples e belas melodias, coros de vozes, teclados, pianos, sintetizadores e guitarras com muita influência de The Edge.

Eu estava em Londres justamente nessa época e acompanhei o "frenesi" do lançamento do disco. A música que levou o nome do álbum disparou entre as mais tocadas na rádio ("Viva La Vida"), enquanto o Coldplay se consolidava como a maior banda de rock de Londres e o mais bem sucedido grupo da Inglaterra na atual década. No Brasil, Coldplay virou até trilha de novela das oito.

E se o primeiro semestre de 2008 na capital inglesa foi marcada pelo Coldplay, a segunda foi dominada pelo Kings of Leon, que lançou o seu quarto disco, Only By The Night, definindo sua nova vertente sonora, muito mais acessível e menos poluída. Refrões marcantes, riffs repetitivos de guitarra, vozes mais limpas definem o som do Kings, que estourou com "Sex on Fire", "Crawl" e "Use Somebody" - que também entrou para a trilha sonora de uma das últimas novelas da Globo!

O disco do Kings of Leon é marcado pela ambição. Fica claro que a banda pretende romper com as barreiras que eram impostos anteriormente por assumir uma postura mais independente. A banda passa a lotar estádios na Inglaterra e nos Estados Unidos. "Sex on Fire" faz tanto sucesso, que é remixada em versões para pista de dança, nas boates elitizadas da Europa. O visual da banda também muda. Os irmãos Followill viram ícones do fashion, com cortes de cabelo do momento e roupas justas de marca.

As duas bandas deixam claro o que querem: Queremos ser o novo U2.



E o resultado desta pretensão provavelmente vai ocorrer nesse ano de 2010.

Tanto Coldplay quanto Kings of Leon estão gravando o quinto álbum. Número emblemático este, considerando que foi no quinto álbum que o U2 se consolidou como a maior banda da década de oitenta, lançando The Joshua Tree.

Será que teremos claramente definido qual é a banda que manda no mainstream do rock pós-U2?

Pra você, vai dar Coldplay ou Kings of Leon? Qual banda iniciará a nova década de 2011-2020 como a maior do mundo? E mais. Por quanto tempo conseguirão manter tal posição?

5 comentários:

  1. Só uma observação: Eno tb produziu o espetacular The Unforgettable Fire.

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  2. Mas o Unforgettable Fire foi uma parceria do Eno com Daniel Lanois e o Lillywhite, por isso não considerei.

    No mais, é um puta disco. Talvez, o meu favorito do U2, em plena forma em 1984.

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  3. Ah é! Sou lesado mesmo... hauAHUAhUha
    Mas eu voto no Coldplay. E eu quero mais que eles tomem o trono do U2 logo! Apesar de fã da banda, reconheço que o sucesso foi um fardo pra eles nesta década.

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  4. Acho que uma banda só vai conseguir superar o U2 quando vier com ideias totalmente revolucionárias... o que eles fazem é apenas imitar o estilo que já foi criado!!!

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  5. Ninguém mais ira superar U2, Beatles, Stones, Queen por causa de uma simples questão, o mercado musical não cabe mais banda de tamanho colossal, com o fim do U2 ou dos Stones (vai saber se Jagger e Richards duram mais 60 anos), o perfil das bandas citadas é extremamente ultrapassado, eles lutam a duras penas o que já acabou no rock, não é atoa que qualquer trabalho do Coldplay ganha prêmios, e vamos falar, o ultimo álbum é bem chatinho. Existe muita banda legal no cenário atual, mas são bandas fast food, bandas sem rosto, bandas sem ídolos. O U2 foi a ultima.

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