Acordei dez e quinze da manha, quebrado. Esse ritmo de natal tá um tanto quanto tenso. Mas tem que ser assim pra ganhar uma grana extra. Tem que trabalhar, nao é só usar o cartao de crédito do papai.
Fui tomar um café da manha com a Pri. O tempo tava contado. A gente acordou as dez, pra tomar banho e café e sair de casa as onze, pois o trabalho comecava ao meio-dia. Eu sabia que se fosse pra sair com a Dayah de noite nao ia dar certo, pois todo dia eu termino no mínimo duas da manha até o Natal. A Dayah fica em Londres até sábado de noite. Eu precisava agir rápido. Se fosse pra reencontrar uma amiga do tempo do colégio tinha que ser naquele momento.
Mandei uma mensagem pra Dayah: "-tá acordada?". Ela nao respondeu. Enquanto tomava café, falei pra Pri: "-O que voce acha de eu chegar um pouco atrasado no trabalho hoje e tentar almocar com a Dayah? Se nao for agora, nao vai ser nenhum dia aqui". A Pri falou que tranquilo, ela iria cobrir com o Vini a minha mao de obra, entao liguei pra Dayah, num número muito cabuloso de Portugal:
-O cabeca, tudo bem?
-Oi Rafa!
-Onde voce tá?
-To aqui na Abbey Road, sabe?
-To aqui na Abbey Road, sabe?
-Claro! Eu moro pertinho!
-Sério?
-Uhum! Fica aí entao, e gente se encontra, pode ser?
-Pode! Chega aí, a gente te espera em frente a Abbey Road Studios.
É claro que o "perto" de Londres nao é o perto de Maringá. Nao é igual: "-To aqui na Marco's Boutique de Pao, te encontro na Catedral, me espera aí!". O perto de Londres é estar no mesmo Borough, no nosso caso: Camden.
Saí de casa e peguei o onibus 13. Desci em St. John's Wood e caminhei tres quadras até chegar na famosa faixa de pedestres de Abbey Road. Cruzei-a e entrei no Abbey Road Studios, onde vi a Dayah tirando fotos com um amigo.
-Rafa!!
-Oiii cabeca!! Que bom te ver!
-Tudo bem?
-Tudo ótimo e voce?
-Beleza. Ó, esse é o Fernando, é lá da minha facul de Faro, mas ele é brasileiro.
-Prazer, Fernando.
-Prazer, velho.
Depois daqueles primeiros minutos de reencontro (sempre tao peculiares), tirei umas fotos deles cruzando a faixa e falei que estava disponível pra ficar com eles até as 16h00.
RAFA:-Que que voces querem fazer?
DAYAH:-Ah, nao sei, véí. A gente tá na humildade só de onibus.
RAFA:-Po, eu tambem.
FER:-A gente tá fazendo os programas gratuitos aqui na cidade.
RAFA:-Entao..voces já conhecem onde o Frued morou?
DAYAH:-Nao..é massa?
RAFA:-É..é uma casa! Mas é aqui perto!
FER:-Ah! Entao vambora!
Pegamos o onibus 82. No caminho batemos um papo sobre onde eles estavam, como estava a facul, onde eles iriam depois e mais um bocado de coisas. No trajeto eu falei pra gente ir pra casa e fazer um lanche lá, ao invés de gastarmos dinheiro com comida na rua.
Em casa, fizemos um lanchao com queijo, presunto e tomate. Abri tres cervejas, liguei o CD do Kings of Leon, Only By The Night, e sentamos na cozinha pra conversar.
Conversamos sobre muita coisa. Sobre os tempos do colégio, o segundo e terceiro colegial no Nobel. Das farras que a gente aprontava, das festas, dos bares, de como estava Maringá agora..a Dayah me contou o destino de toda a galera do nosso grupo. O que cada um tá fazendo, como cada pessoa tá seguindo o seu caminho..como a vida um dia nos uniu, e depois nos separou em rotas diversas.
Depois do papo nostálgico, perguntei se eles tavam a fim de ir no Zoo de graca. Eles toparam na hora! E ficaram mais faceiros quando falei que o preco da entrada era de £ 18.00. Quer dizer, uma baita economia!
Fomos a pé pro Zoo. É apenas meia hora casa. Saímos de casa umas 14h00. Andamos pela Avenue Road, uma rua típica inglesa, com casas de "tijolinho a vista". Depois, descemos no Regents Canal e fomos caminho na beira de um dos "bracos" do Thames. Uma caminhada tranquila. Fomos conversando sobre como era a universidade em Faro (Portugal), as gírias dos portugueses e como era a vida por lá. A Dayah e o Fernando me fizeram rir com o naipe dos figuras por lá.
Entramos no Zoo e passamos por vários enclosures. Vimos os penguis, os leoes, o tigre, os macacos da bunda de coracao, os meerkats, as lontras, os mico-leoes e outros.
As 15h30min eu disse com pena:
-Dayah, preciso ir. Preciso comecar o trampo.
-Beleza, Rafa.
-Ó, brigado pelo encontro. Espero que voce tenha gostado.
-Nossa, valeu mesmo. Foi muito massa.
-Bom..engracado como o destino nos uniu naquela sala, nos separou e agora fez a gente se encontrar AQUI, em Londres.
-É..muito estranho!
-Bom, boa jornada pra voces.
-Voce tambem, boa viagem pela Europa, se cuida meu.
Demos um abraco. Abracei o Fernando, agradeci pelo prazer da compania, e os vi partir pelo turn-style exit do zoo.
Passei quase dois anos sem ver a Dayah, pois ela estuda em Floripa (oceanografia) e eu fiquei em Maringá. Passei uma tarde com ela (das 11h30 as 15h30), e agora quem sabe qual vai ser a próxima vez que a verei? A vida é estranha. É estranho analizar os vai-e-vens das pessoas. Bom, pelo menos nós divertimos e matamos a saudade.
Trabalhei até 03h00 da manha e troquei uma última mensagem com ela, falando que passaria as fotos no e-mail no dia seguinte. E assim foi, ela seguiu seu caminho e eu segui o meu.
Fui dormir 04h00 da manha.
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