OLD CROW MEDICINE SHOW

Sábado chuvoso em Londres. Na própria BBC o radialista dizia: "yes folks, it's saturday and the weather is awful. It is miserable." Mas o que importa o clima quando uma banda boa como Old Crow Medicine Show vai tocar na cidade?

Depois de tomar duas cervejas e comer um pão com hamburger as 17h00, saí de casa e peguei o ônibus 31 indo para Shepherds Bush Green. Cheguei 18h15 na frente do local do show, Shepherds Bush Empire. Com um papel impresso do ticketmaster, dei de cara com o Box Office (local de coleta de tickets comprados on-line) fechado e fui pro Pub mais próximo, o Walkabout, tomar mais uma cerveja.

Terminei meu copo de Stella e saí do bar, deixando pra trás o telão do jogo Nadal x Murray. Os ingleses comemoravam a vitória do inglês sobre o espanhol até aquele momento. Na Box Office peguei meu bilhete e parei um pouco na fila, que já aglomerava umas 10 pessoas. Pensei em ficar na fila. Mas também parei e refleti que uma banda de Tennessee merecia um drink de Tennessee antes de curtir o show. Saí da fila e me dirigi ao O'neils, na esquina da rua.

No O'neils, cheguei no balcão e pedi um Jack Daniels straight. Virei o copo e senti o sabor único do velho número sete descer minha garganta e aquecer meu peito. Sorri sozinho, pensando: agora eu estou pronto.

Voltei pra fila e depois de meia hora os portões se abriram, com poucos minutos de atraso. Dava pra ver a cara de empolgacão dos ingleses e suas camisas xadrezes (como a minha) entrando no salão. Como era cedo, fui pro balcão do bar e pedi mais uma dose de Jack Daniels cowboy. Desceu suave, se não fosse pelo preco (£3.00 só pela dose single). Na sequência, pedi um pint de Carling e desci de novo pra perto do palco com meu copo plástico.

Depois de uma hora e meia ouvindo as conversas ao meu redor e acompanhar o salão enchendo aos poucos, os cinco rapazes sulistas entraram no palco, totalmente aplaudidos pelas quase 1.000 pessoas presentes. Foi de arrepiar.

De cara, tocaram uma música no novo álbum que será lancado dia 22/09, Tennessee Pusher. Deu pra perceber um amadurecimento musical sutil nos caras. Tá certo que o bluegrass/country é manjado e segue uma linha tradicional de tônica, quinta e sétima nos acordes, mas o vocal e o banjo estavam mais arranjados, junto com a gaita maneira de Ketch Secor.

Depois da abertura, mais uma do novo álbum. Por ser mais uma inédita, fiquei somente ouvindo, mas estranhei ao perceber quase todas as pessoas cantando ''Caroline'' - hoje que percebi que a música está faz tempo disponível no MySpace. Muito boa música. Depois dela, vieram duas conhecidas, pra agitar o salão, ''Down Home Girl'', do álbum Big Iron World (2006) e ''Hard to Tell'', do OCMS (2004). Entre as duas músicas surgiu o primeiro diálogo da banda com o público e pro meu ouvido foi muito estranho ouvir aquele sotaque tão carregado do sul dos Estados Unidos. O erre é muito puxado e o som é muito nasal. Eles são tão caipiras como nós do interior do Paraná.

Ainda no primeiro set, tocaram mais algumas do álbum novo e velhas conhecidas como ''James River Blues'', ''Let it Alone'' e a mais cantada da noite, ''Tell it to Me''. Todos dancavam meio apertados, com receio de bater na pessoa ao lado, mas cantando com toda a vontade possível. A banda ficou impressionada com o público londrino e depois de mais alguns elogios trocados, saíram para um intervalo de 20 minutos.

O segundo set voltou com mais músicas novas, dessa vez mais intimistas, um pouco mais tristes e muito bem trabalhadas pela banda. Várias vezes Ketch Secor entregou o violino ao colega Willie Watson (violão e voz), e esse o tocou muito bem. Outras vezes Willie pegou o banjo e Ketch tocou violão com aquele suporte pra gaita na pescoco. Todos dominando muito os instrumentos.

A galera gritava e assoviava sem parar. Todos pediam músicas e davam gritos caipiras no estilo: IIIIRRA! Eu gritava várias também. YEAH, RIGHT! E até pedi uma música: TEAR IT DOWN! Mas não fui ouvido. Se fui, fui ignorado. Acho que eles ouviram sim, pois eu estava a poucos metros do palco, com apenas duas pessoas na minha frente. Bom, todos estavam tendo um ótimo momento, cantando músicas animadas como Cocaine Habit, Minglewood Blues, Hard to Love e outras do CD novo.

No momento mais emocionante da noite, as luzes abaixaram no palco e ''Wagon Weel'' foi cantada sem parar por todos. O refrão, originalmente cantado por Bob Dylan (Rock me Mama), ganhou uma imensidão única com todas as vozes juntas.

Aplaudidos e ovacionados sem parar por muitos minutos eles deixaram o palco, agradecendo muito a todos. Mas as palmas não paravam. Ninguém se cansava e sabia que o Bis iria acontecer. Com muitos gritos, a banda voltou e se posicionaram pra tocar. Ketch chegou tímido ao microfone:
''-would be a great pleasure to play a couple of song more for your tonight, london town'', num sotaque tão caipira que abriu um sorriso geral na galera.

Tocaram mais uma do álbum novo e depois Union Maid, que levantou todo mundo com o refrão don't you ever let a woman ruin your mind / she''ll leave you in trouble, worried all the time. Com uma reprise de Tell it to Me a banda foi apresentada, fechando o bis com chave de ouro.

Mas ninguém não queria nem saber. Aplaudindo muito e batendo os pés no chão de forma crescente, o barulho foi tanto e tão comovente, que mesmo depois de as luzes estarem apagadas, a banda voltou prum segundo Bis. Sorridentes, agradeceram de novo todos os presentes, falando que não esperavam uma resposta tão boa do público inglês. ''Well, so let's go, rainy london town!''

''I Hear them All'' foi cantada em peso. Depois fecharam com uma mais animada, Bobcat Tracks com um solo de violino animal de Ketch, que fez todo mundo arrepiar e aplaudir sem parar.

Com muitos aplausos, os cinco rapazes deixaram o palco em definitivo. As luzes se acenderam as 23h00 e as quase mil pessoas foram deixando o local lentamente.

Lá fora, uma alegria geral de todos. Alguns acendendo um cigarro, como se tivessem acabado de gozar na cama, outros comentando as melhores partes com os amigos. Eu, sozinho, segui meu caminho em direcao ao ponto de ônibus mais próximo.

Era cedo prum sábado a noite, mas para mim a noite já estava completa. Ver de perto, ouvir e cantar junto com uma das bandas novas mais bacanas do Estados Unidos já foi o suficiente.

Agora é torcer para que um dia eles aparecam no Brasil.

Um forte abraco.

Good night, pal! (no sotaque country)

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