adj. Que se pressupõe. / S.m. Conjetura, pressuposição. / Pretexto. / Desígnio, propósito. / Plano, projeto. / Direito Fato, circunstância que se considera como antecedente necessário de outra.
Em tempos de modismos oitentistas no rock, como bandas indie que abusam dos sintetizadores e sons eletrônicos (baste conferir os top charts no Reino Unido, Estados Unidos e até aqui), Nevilton revitaliza o poder da boa e velha guitarra - instrumento fundamental neste gênero musical.
Sim. Nevilton (a banda, não o cara) é pura guitarra.
E era de se esperar. Nevilton de Alencar, desde os tempos da banda Superlego nos idos de 2005 em Umuarama, se mostrava um guitarrista de mão cheia e exímio letrista. Não bastou muito para o menino franzino tomar coragem de assumir os microfones numa banda e encarar o árduo espaço do rock autoral no Brasil.
De lá pra cá muita coisa mudou. A banda distribuiu demos de músicas gravadas de forma caseira, participou de festivais (e até organizou alguns), convidou bandas para tocar noroeste do Paraná, encarou as capitais e se tornou conhecida - culminando nas indicações de "segundo melhor show de rock" pela Scream & Yell e "banda revelação" pela revista Rolling Stone.
A expectativa do primeiro disco aumentou em 2009, mas a banda foi paciente. Gravaram em São Paulo no primeiro semestre do ano e em Umuarama no segundo. Masterizaram com Rafael Castro, outro artista conhecido da cena independente nacional.
Nesse mês anunciaram a grande surpresa. Não iria sair um disco, mas sim um EP (extended play). E assim o lançaram virtualmente na segunda semana do mês carnalesco:
1. Pressuposto
2. O Morno
3. Vitorioso Adormecido
4. Do Que Não Deu Certo
5. Singela
Pressuposto, faixa-a-faixa
O EP começa com a faixa homônima, na qual nota-se um dos melhores trunfos da banda: fonemas cantados! "Oh-oh-oh-oh" que lembra bandas britânicas como Kaiser Chiefs, os primeiros discos do U2 ou bandas brasileiras como Ultraje.
Pressuposto, a música de abertura, é cheia de guitarras marcantes (com bons acordes, riffs e bends), e melodias vocais perfeitas para se cantar com o público (ou simplesmente com o auxílio de Tiago Lobão e Éder Chapola, baixista e baterista da banda, respectivamente).
A letra é bela e através dela é que a capa do disco faz sentido.
O segunda faixa, O Morno, é uma porrada sonora. Guitarras distorcidas, baixo linear e bateria muito bem arranjada nos tons e surdo. É, sem sombra de dúvidas, a música mais rock n' roll do disco.
A letra é fantástica e fala dum sujeito que simplesmente não sabe o que é viver (Não lê o livro, só quer saber a mensagem / E só chupa a laranja que o outro descascou).
O refrão é otimista ao extremo. Uma daquelas músicas que te deixam bem ao captar a mensagem (Enfim, um dia ele acordou pra vida / E experimentou o que é viver / E amou, errou, tentou, leu, descobriu / Que é natural nem tudo sair como se espera / Mas todo ano chega a primavera / E o calor do sol sempre ta aí pra te abraçar). A banda foi genial, com muita simplicidade, nos moldes do Pullovers.
A terceira música, Vitorioso adormecido, parece uma segunda parte da música anterior. Possui o mesmo padrão: guitarras marcantes (que lembra Pavement e outras do alternativo americano), segunda voz suave e letra otimista.
Vitorioso Adormecido mais parece um conselho (Um cara como você / Que nasceu para vencer / Tem que querer viver / Intensamente, como a lava quente). Nevilton insiste em dizer: Carpe Diem, amigo.
Já a quarta faixa, Do Que Não Deu Certo, é a mais produzida do disco. Ouvindo-se com atenção percebe-se uma grande riqueza de detalhes, principalmente com relação aos arranjos vocais e instrumentais.
A parceria lírica entre Nevilton e Tiago Inforzato (excelente escritor, diga-se de passagem) deu muito certo.
A última faixa, Singela (canção do amigo), já era bem conhecida do público, considerando que era executada frequentemente no show.
O título explica muita coisa. O refrão brinca com a entonação e o solo de guitarra é uma preciosidade: poucas notas, mas precisas - diferente do virtuosismo esbanjado em outras músicas da banda.
Singela é diferente. Menos riffs, menos potência sonora e mais acordes menores. Na música, ouve-se um piano discreto, que dá toda a diferença na canção.
E assim o EP encerra-se.
Impressões finais
É cedo para dizer até onde Nevilton pode chegar, mas a impressão que fica ao ouvir esse incrível disco é que a banda é grande demais para o interior do Paraná. E seria um enorme desperdício o grupo não alçar maiores voos, com o objetivo de divulgar seu excelente rock brasileiro para todo o país.
Toda pessoa que se preze apreciadora desse gênero musical (o bom e velho rock n roll), deve ouvir o disco e formar sua própria opinião.
E mais. Todo rocker deve ir a pelo menos um show da banda, pois a performance do grupo é tão surpreendente quanto suas gravações em estúdio.
O rock do interior paranaense nunca esteve tão bem representado.
Viva a capital da amizade (Umuarama). Viva esses três jovens que fazem música com a alma (Nevilton, Tiago Lobão e Chapolla). Viva a banda Nevilton.
vc falou da guitarra, mas o que me chamou atenção nesse disco foi a bateria. a formação hc do chapolla (ex-drawtheline, inclusive) deu uma incrementada legal no som dos caras. pra mim foi o diferencial deles.
ResponderExcluircara, é coisa linda ver uns discos assim, de qualidade, saindo do independente. meu olho até brilha.
Eu sou suspeito pra falar de guitarra.
ResponderExcluirComo diria um amigo meu:
ResponderExcluir"Vida Longa ao Rock and Roll"!
Obrigado pelo capricho na resenha.
Grandes abraços.