O jornal La Repubblica, da Itália, publicou ontem uma entrevista com Kalle Lasn, fundador da revista canadense que lançou o movimento "Ocuppy Wall Street". A tradução, de Moisés Sbardelotto, foi publicada no portal do Instituto Humanitas Unisinos. Confira.
O senhor é o fundador da Adbusters, a pequena grande revista sem fins lucrativos, que lançou o "Ocuppy Wall Street". Esperava uma reação como essa?
Os norte-americanos não encontram trabalho, o desemprego chega a 40% entre os 19 e 25 anos, e o Tea Party continua gritando contra toda intervenção estatal. Não era o momento de apontar para uma retomada da esquerda? O que nos inspirou foi o que vimos acontecer no Egito, na Primavera Árabe. E quando finalmente isso também aconteceu aqui... Aleluia!
A Adbusters é uma revista canadense, e a nova edição traz o título "American autumn": os Estados Unidos precisavam de uma ajudinha de fora?
Talvez sim. É preciso dizer que a esquerda norte-americana passou por um período muito duro nos oito anos de George W. Bush. E depois do advento do Tea Party. Aí vimos que Barack Obama não tinha a coragem suficiente.
Muitas pessoas nas ruas agora dizem ter votado nele. Mas que provavelmente não vai mais fazer isso. O presidente não deveria voltar a se dirigir ao seu povo que protesta?
Seria maravilhoso. Há um ano e meio estamos esperando que ele se levante novamente e faça o que prometeu. Acredito que é culpa da sua personalidade. Ele era alguém de fora e, uma vez eleito, continuou sendo um intruso. Sempre querendo agradar a todos.
Há uma alternativa?
Entre ele e Rick Perry, no fim, as pessoas da Liberty Plaza vão votar nele. O problema continua sendo outro: a esquerda ainda não tem um líder capaz de fazer sonhar.
De Michael Moore a Noam Chomsky, passando por Naomi Klein: os intelectuais que apoiam O "Ocuppy Wall Street" são os mesmos que, em 2001, aplaudiram o movimento antiglobalização.
Michael Moore foi para a Liberty Plaza com as pessoas gritando e berrando: ótimo. Depois, a partir daí, no entanto, ele foi ser entrevistado pela CNN para vender o novo livro.
O que o senhor quer dizer?
Que todas essas pessoas fizeram muito bem para a esquerda: mas hoje a esquerda precisa de sangue novo. Depois, Moore e Chomsky e todos os outros: caberia a eles dar início à revolta. Mas eles estão muito ocupados em escrever ou dar entrevistas: prontos para, em seguida, subir no ônibus andando. Mas repito: eles não são os únicos que serviriam para que a esquerda reencontrasse aquele tipo de paixão que o Tea Party comunica.
O senhor vê um novo líder nas ruas?
Neste momento não. Mas quando eu vejo esses jovens que dormem lá no Zuccotti Park falando na TV, eu penso: "Meu Deus, são pessoas fantásticas, realmente entenderam o que está acontecendo, que, se não fizermos nada, em 15 anos vão ir à ruína".
Mas como se vence sem um líder?
Enquanto isso, o protesto fez surgir novamente um discurso de esquerda. Entre eles, surgirá alguém capaz de nos guiar? Espero que sim. Mas também vejo abrir caminho uma nova fórmula. Talvez o futuro nos reserva um modelo diferente: o guia em enxame...
Por que o senhor não vai para as ruas?
Talvez eu faça. Por enquanto, prefiro continuar sendo o guerreiro nos bastidores: aquele que lançou a ideia e agora se alegra com tudo isso.
Não falta só um líder. Há quem defenda que o movimento também não possui objetivos concretos.
Isso é um erro. Eu também vejo que algumas respostas são vagas. Queremos isto, queremos aquilo, queremos ser ouvidos. É justo ter uma série de exigências. Mas é preciso que alguém se levante e diga: queremos uma Robin Tax, queremos uma lei sobre as transações financeiras, uma reforma do sistema bancário, uma reforma do financiamento eleitoral. [A Tobin Tax, uma versão mais compartilhada da Robin Hood Tax, é a proposta que Nicholas Kristof fez no New York Times de pequena taxa sobre as transações financeiras que ocorrem apenas entre as grandes instituições]. O meu sonho é que, para os dias 3 e 4 de novembro – quando o G20 se reunirá em Cannes – milhões de pessoas protestem em todo o mundo. Levantando a mesma exigência: Robin Tax.
O senhor conhece a Itália? Milhões de pessoas saíram às ruas exigindo a prestação de contas de Silvio Berlusconi sobre a sua política e os seus escândalos: e ele ainda está lá.
Estive várias vezes na Itália, conheço a tradição de esquerda e não consigo entender como vocês ainda não se livraram de Berlusconi. Propostas? Concentremo-nos no protesto global, façamo-nos ouvir no G20. E depois voltemos a Berlusconi.
Os norte-americanos não encontram trabalho, o desemprego chega a 40% entre os 19 e 25 anos, e o Tea Party continua gritando contra toda intervenção estatal. Não era o momento de apontar para uma retomada da esquerda? O que nos inspirou foi o que vimos acontecer no Egito, na Primavera Árabe. E quando finalmente isso também aconteceu aqui... Aleluia!
A Adbusters é uma revista canadense, e a nova edição traz o título "American autumn": os Estados Unidos precisavam de uma ajudinha de fora?
Talvez sim. É preciso dizer que a esquerda norte-americana passou por um período muito duro nos oito anos de George W. Bush. E depois do advento do Tea Party. Aí vimos que Barack Obama não tinha a coragem suficiente.
Muitas pessoas nas ruas agora dizem ter votado nele. Mas que provavelmente não vai mais fazer isso. O presidente não deveria voltar a se dirigir ao seu povo que protesta?
Seria maravilhoso. Há um ano e meio estamos esperando que ele se levante novamente e faça o que prometeu. Acredito que é culpa da sua personalidade. Ele era alguém de fora e, uma vez eleito, continuou sendo um intruso. Sempre querendo agradar a todos.
Há uma alternativa?
Entre ele e Rick Perry, no fim, as pessoas da Liberty Plaza vão votar nele. O problema continua sendo outro: a esquerda ainda não tem um líder capaz de fazer sonhar.
De Michael Moore a Noam Chomsky, passando por Naomi Klein: os intelectuais que apoiam O "Ocuppy Wall Street" são os mesmos que, em 2001, aplaudiram o movimento antiglobalização.
Michael Moore foi para a Liberty Plaza com as pessoas gritando e berrando: ótimo. Depois, a partir daí, no entanto, ele foi ser entrevistado pela CNN para vender o novo livro.
O que o senhor quer dizer?
Que todas essas pessoas fizeram muito bem para a esquerda: mas hoje a esquerda precisa de sangue novo. Depois, Moore e Chomsky e todos os outros: caberia a eles dar início à revolta. Mas eles estão muito ocupados em escrever ou dar entrevistas: prontos para, em seguida, subir no ônibus andando. Mas repito: eles não são os únicos que serviriam para que a esquerda reencontrasse aquele tipo de paixão que o Tea Party comunica.
O senhor vê um novo líder nas ruas?
Neste momento não. Mas quando eu vejo esses jovens que dormem lá no Zuccotti Park falando na TV, eu penso: "Meu Deus, são pessoas fantásticas, realmente entenderam o que está acontecendo, que, se não fizermos nada, em 15 anos vão ir à ruína".
Mas como se vence sem um líder?
Enquanto isso, o protesto fez surgir novamente um discurso de esquerda. Entre eles, surgirá alguém capaz de nos guiar? Espero que sim. Mas também vejo abrir caminho uma nova fórmula. Talvez o futuro nos reserva um modelo diferente: o guia em enxame...
Por que o senhor não vai para as ruas?
Talvez eu faça. Por enquanto, prefiro continuar sendo o guerreiro nos bastidores: aquele que lançou a ideia e agora se alegra com tudo isso.
Não falta só um líder. Há quem defenda que o movimento também não possui objetivos concretos.
Isso é um erro. Eu também vejo que algumas respostas são vagas. Queremos isto, queremos aquilo, queremos ser ouvidos. É justo ter uma série de exigências. Mas é preciso que alguém se levante e diga: queremos uma Robin Tax, queremos uma lei sobre as transações financeiras, uma reforma do sistema bancário, uma reforma do financiamento eleitoral. [A Tobin Tax, uma versão mais compartilhada da Robin Hood Tax, é a proposta que Nicholas Kristof fez no New York Times de pequena taxa sobre as transações financeiras que ocorrem apenas entre as grandes instituições]. O meu sonho é que, para os dias 3 e 4 de novembro – quando o G20 se reunirá em Cannes – milhões de pessoas protestem em todo o mundo. Levantando a mesma exigência: Robin Tax.
O senhor conhece a Itália? Milhões de pessoas saíram às ruas exigindo a prestação de contas de Silvio Berlusconi sobre a sua política e os seus escândalos: e ele ainda está lá.
Estive várias vezes na Itália, conheço a tradição de esquerda e não consigo entender como vocês ainda não se livraram de Berlusconi. Propostas? Concentremo-nos no protesto global, façamo-nos ouvir no G20. E depois voltemos a Berlusconi.
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