"Para você saber seu efeito sob as mulheres de Maringá, basta notar os pés debaixo da mesa de plástico. Se começarem a bater logo após que você sentar, meu amigo, sua noite está garantida. Notei que uma das garotas tinha um pescoço esbelto, que me lembrou os quadros de Modigliani – além de seios, coxas e decote. Mas eu não cheguei com essa cantada por dois motivos óbvios.
Se ela fosse inteligente – característica extremamente rara em mulheres maringaenses -, talvez ficasse ofendida. Você, me chamando de pescoçuda? Talvez. Mas, como essa garota certamente tinha um nível de estupidez considerável, não seria agradável chegar citando Modigliani. Ninguém quer ser um alienígena munido de pintores numa mesa de bar.
Por isso cheguei na mesa, sentei e disse algo sobre seu pescoço. Como é lindo o seu pescoço. Ela me olhou, assustada. Sei que ninguém nunca elogiou o seu pescoço. No máximo, continuei, você sabe que arrepia e esquenta na língua ou na barba mal feita, algum ex, atual, algum noivo, você não é casada e têm filhos?
Não tenho certeza. Faz tempo que parei de olhar aliança. Já me dei bem com uma casada, e não abordaria a mesa em que ela estava sentada, nem teria fodido ela atrás do Senac, numa rua deserta, se soubesse do seu comprometimento – mas isso eu não falei para a Modigliani".
A íntegra do conto Infiel, de Alexandre Gaioto (um dos meus escritores favoritos de Maringá), você lê aqui.
PS: Não recomendado para menores.
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