Nossa cultura, nossa época, nos acena constantemente com o brilho: o brilho de imagens, o brilho de algo que traria a felicidade, o brilho de um lugar onde a verdade resplandecerá, o brilho de objetos que satisfariam todos os desejos. E para atingir tal prêmio, que escamoteia a falta original, não faltam regras, normas, modos de fazer, receitas de como chegar lá, prescrições, mandamentos, direções asseguradas, portos seguros. Por aí se constrói a moral vigente, regras de conduta, ortopedias comportamentais.
Mas todos sabemos, e não queremos saber que sabemos, que o homem, porque banhado pela linguagem, não é nada disso. É divórcio, é rachadura, divisão, fenda: entre consciente e inconsciente, demanda de suprir falta e satisfação que se furta, desejo indestrutível e objeto que não o cala.
Cyro Marcos da Silva, Entre Autos e Mundos.
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