Education for the Masses: o protesto dos estudantes em Londres

Algumas vezes comentei por aqui o quão diferente está o cenário político-social no Reino Unido após a eleição do Partido Conservador, que subiu novamente ao poder com base em um discurso falacioso e bem articulado de que o Partido dos Trabalhadores teria levado o país à crise deflagrada pelo Credit Crunch há dois anos.

Muitos jovens ingleses acreditaram nas promessas de David Cameron (o mais novo Primeiro-Ministro eleito nos últimos dois séculos, com 43 anos) e dos membros da coligação - formada entre os Liberal Democrats ("Lib Dem") e os Conservative - de que novos tempos de prosperidade viriam através de reformas liberais. A proposta de que era preciso diminuir o Welfare State conquistou o povo britânico, abalado pelos efeitos da recessão econômica de 2008.

Mas nessa semana a massa trabalhadora foi traída pelas falsas promessas da elite. Após uma semana conturbada de protestos em todas as Universidades do Reino Unido, a coligação aprovou no Parlamento, no dia 09 de Dezembro, uma lei que permite que as instituições de ensino superior possam cobrar taxas anuais de até £ 9.000 por ano para os estudantes (seria como se fosse aprovada uma lei no Brasil que permitisse que a Universidade de São Paulo, por exemplo, cobrasse até R$ 24.000,00 por ano de cada universitário, totalizando R$ 120.000,00 para um curso de graduação).

De acordo com o The Guardian, após a histórica decisão do Parlamento, um estudante britânico sairá da Universidade pública com um débito de 30.000 libras esterlinas (para um curso de apenas três anos).

A coligação Lib-Dem/Conservative defende que os cortes de subsídios à educação são necessários para a reestruturação dos gastos públicos britânicos. Assim, autoriza que tradicionais instituições públicas passem a cobrar pelo ensino prestado.

O resultado para tais ações governamentais não poderia ser diferente: protestos, revolta estudantil e violência nas ruas de Londres. Era de se esperar uma atitude dessas por parte do Partido Conservador, mas a votação de quinta-feira foi como uma facada nas costas daqueles que confiaram nas propostas dos liberais-democratas.

Estudantes protestam ao redor da estátua de Winston Churchill em 09/12/2010. Fonte: Getty Image

Em termos de movimento estudantil, o que se viu na noite desta quinta foi algo que não se via desde os movimentos de 1968, que emergiu em toda Europa. Acadêmicos de todo o país foram até Londres para pressionar o Parlamento Britânico a não aprovar a lei de cortes à educação.

A cena foi épica: jovens "blindados" com livros (Adorno, Huxley, Orwell, entre outros) enfrentaram os cacetetes dos policiais britânicos. Deu-se então o início do caos: grupos minoritários converteram o protesto pacífico numa demonstração violenta de indignação contra os planos de austeridade que a coligação parlamentar pretende implantar nos próximos anos no país.

Foto: Stefan Wermuth

Toby Helm explica que o assalto à educação universitária é o principal motivo para os protestos de quinta-feira. As taxas (Tuition Fees) são apenas uma peça do complexo quebra-cabeças em formação: "It was the perceived assault on university education that brought thousands of young people to the streets of the capital on Thursday. On previous days it had been economic policy. Tomorrow, it will be the decision to abolish the education maintenance allowance (EMA) for teenagers from poor backgrounds. What has triggered this change? For years, the young have been dismissed as apathetic. What has happened to make tens of thousands of them pour on to the streets in the bitter cold – not once, but again and again; not just in London, but in Manchester, Birmingham and Leeds? What has sparked the re-emergence of student occupations in lecture theatres across the country? What is it about the coalition government and its policies that has ignited so much anger? Shiv Malik, co-author of the book Jilted Generation: How Britain Has Bankrupted Its Youth, says the under-thirties feel betrayed – sold out in favour of their parents and grandparents. Fees, he argue, are just one part of the jigsaw. The 29-year-old took to the streets himself on Thursday, and was injured after being hit by a police baton. He argues that most of the protesters were not anarchists or socialists but young people whose instinct to revolt had been awakened for the first time".

Estes vídeos demonstram a gravidade da situação.




O engraçado é que a grande mídia - assim como no recentíssimo caso Assange, na greve geral portuguesa e nos protestos trabalhistas na Grécia - não mostra a realidade e não deixa transparecer que movimentos sociais estão se formando em toda a Europa para confrontar o establishment pós-crise.

Este é apenas o início de um período de intensas lutas que presenciaremos num futuro próximo. 

O atual estágio do capitalismo está em colapso e uma nova geração está se organizando para modificá-lo. O conflito social é inevitável. Pelo menos, essa é minha (precária e limitada) conclusão.

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