O cenário de indefinições e insegurança econômica continua se alastrando para diversos setores. O que anteriormente era um aviso de economistas heterodoxos, passa a ser incorporado pelo discurso de instituições tradicionalmente ligadas ao mainstream economics. O relatório World Economic Outlook publicado este mês pelo Fundo Monetário Internacional (veja aqui) deixa claro o discurso de instabilidade e potêncial risco sistêmico assumido por parte dos economistas filiados a tal instituição. Quando a crise é anunciada por Washington e noticiada pelos grandes veículos de comunicação significa que atingiu um momento de pico.
A primeira frase do sumário executivo do relatório é que a economia global está numa fase nova e perigosa. Não é preciso ter um conhecimento avançado em economia para ler o primeiro parágrafo do texto e saber que as coisas não estão bem: "The global economy is in a dangerous new phase. Global activity has weakened and become more uneven, confidence has fallen sharply recently, and downside risks are growing. Against a backdrop of unresolved structural fragilities, a barrage of shocks hit the international economy this year. Japan was struck by the devastating Great East Japan earthquake and tsunami, and unrest swelled in some oil-producing countries. At the same time, the handover from public to private demand in the U.S. economy stalled, the euro area encountered major financial turbulence, global markets suffered a major sell-off of risky assets, and there are growing signs of spillovers to the real economy. The structural problems facing the crisis-hit advanced economies have proven even more intractable than expected, and the process of devising and implementing reforms even more complicated. The outlook for these economies is thus for a continuing, but weak and bumpy, expansion. Prospects for emerging market economies have become more uncertain again, although growth is expected to remain fairly robust, especially in economies that can counter the effect on output of weaker foreign demand with less policy tightening".
Olivier Blanchard, conselheiro do FMI, sugere que os países devem adotar fortes políticas em três frentes: (i) políticas fiscais (redução de juros e maior concessão de empréstimos), (ii) medidas financeiras (fortalecimento dos bancos junto com regulação anti-corrupção) e (iii) rebalanceamento externo entre importação/exportação. Com relação a esse terceiro, Blanchard sugere que os Estados Unidos e países europeus devem exportar mais, diminuindo a importação de bens de países asiáticos. Aliás, sugere que isso ocorra rápido ("they mustbe implemented as fast as possible").
Aparentemente, o Brasil está atuando nas três frentes. O Banco Central diminuiu a taxa básica e outras políticas foram tomadas para aumentar o consumo. Ainda, o governo teme o excesso de importação de manufaturados chineses, e, por isso, aumentou o custo da importação e elaborou um plano de desoneração tributária para setores industriais específicos. Mas será que essas medidas podem mesmo melhorar a economia e garantir maior estabilidade? A complexidade de resolução de uma crise sistêmica pode ser simplificada em três linhas de atuação como sugeriu o FMI? Aliás, tal discurso defende quais interesses?
Eu não sei. Tudo parece muito confuso e distante da nossa realidade (de meros consumidores; minúsculas peças que fazem toda a engrenagem girar). Mas os fatos e as práticas discursivas parecem apontar para o óbvio (entre alguns círculos acadêmicos): estamos vivendo uma crise sistêmica poderosa, uma crise de uma fase específica do capitalismo, um momento de potencial ruptura que pode levar a humanidade a caminhos desconhecidos.
Talvez um "brand New Deal" não dê conta do insustentável peso da globalização do capitalismo financeiro. Isso é algo que inevitavelmente vamos pagar para ver.
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