Imagine Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Otto, Bárbara Eugênia, Fernando Catatau e Odair José (sim, Odair José!) cantando juntos os versos "Vamos fazer dessa noite / A noite mais linda do mundo / Vamos viver nessa noite / A vida inteira num segundo / Felicidade / Não existe / O que existe na vida / São momentos felizes" num palco só.
Bizarro e maravilhoso, não? Pois foi justamente isso que aconteceu no final da gravação do segundo programa "Grêmio Recreativo de Arnaldo Antunes", que aconteceu na última quarta-feira (16/02) no Inferno Club, e que irá ao ar na MTV em Março.
"A noite". Foto: Mário Bastos
É difícil falar do quão bom foi esse show. Até agora - seis da tarde dum domingo chuvoso (quatro dias depois) - não consegui digerir a qualidade performática, além da afinidade estética e afetiva, que nos foi exposta no palco do Inferno Club, da rua Augusta.
Tudo começou com a poesia sonora pós-moderna de "Agora" - uma perturbadora obra de arte sobre o agora e sobre o agora que já passou (e sobre o outro agora, e o agora outro agora).
Depois, Arnaldo convidou ao palco, apresentando ao público presente, a brilhante (e subestimada) banda Cidadão Instigado - que tem hoje o mais criativo guitarrista do cenário independente, Fernando Catatau. De cara, eles mandaram "Doido", música do último disco Uhuuu! (2009), que conta com os vocais de Arnaldo Antunes numa parte da canção.
Nessa hora, bati no ombro da Priscila e do Michel e gritei completamente empolgado: "Demais! Cidadão Instigado!!!". Explico o motivo: até aquele momento não sabíamos quem seriam os convidados para o show de Arnaldo Antunes. Sabíamos somente que Arnaldo teria alguns músicos e bandas com ele no palco, mas não sabíamos quem seriam esses. Portanto, o Cidadão Instigado foi a primeira agradável surpresa da noite.
A segunda doce surpresa foi Bárbara Eugênia, uma das expoentes da nova geração de brilhantes compositores do país - e que recentemente foi "resenhada" aqui no blog. Ela subiu ao palco e cantou "Por Aí" e "O Tempo", junto com Catatau. Impecável.
"Bárbara Eugênia e Cidadão Instigado". Foto: Mário Bastos
Tudo estava indo muito bem. O que mais poderíamos querer? Já tínhamos ali no palco dois grandes nomes da música independente nacional.
Eis então que surgiu o maluco da ciranda, o doidão de Pernambuco, Otto Maximiliano Pereira de Cordeiro Ferreira, o "Otto". Chegou com um blazer preto e óculos escuros, deu boa noite ao público, virou-se para a banda e iniciou a poderosa canção "Seis Minutos", do kafkiano disco Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos (2009). A galera arrepiou com seus tristes versos.
"Otto e Bárbara". Foto: Mário Bastos
Depois do início "nova geração", foi a vez da velha guarda entrar em cena. Arnaldo Antunes voltou ao palco e convidou seu grande parceiro Paulo Miklos para tocar alguns clássicos, como "Televisão" e "Pavimentação", do início da carreira dos Titãs.
"Antunes e Miklos". Foto: Mário Bastos
Miklos, que além de cantor é ator (já viram "O Invasor", baseado na obra de Marçal Aquino?), brincou com diversos instrumentos. Tocou flauta, gaita e até saxofone. Foi brilhante. Tá certo que Miklos algumas horas leu as letras das músicas, mas é preciso dar um desconto pro cara. Não é mole tocar todos esses instrumentos e ainda saber as letras de canções antigas como as que foram tocadas.
Bom, e o final? Quem mais poderia nos surpreender? Como estraguei a ordem cronológica das apresentações logo no primeiro parágrafo do texto e dei o nome de todos os convidados, você já sabe. Mas imagine nossa surpresa - já extasiados em ver Cidadão Instigado, Bárbara Eugênia, Otto e Paulo Miklos - quando Arnaldo Antunes convidou um ícone da música popular brasileira - um homem controverso que já foi chamado de "Bob Dylan da Estação do Brasil" e "o Terror das Empregadas" -, Odair José, para o palco.
O que eu posso dizer a respeito? Todos ficaram sem palavras, incrédulos. Mas foi sensacional. Após algumas músicas tocadas somente com Cidadão Instigado, todos voltaram ao palco para cantar os grandes clássicos do compositor goiano, como "Eu Vou Tirar Você Desse Lugar" (que já foi gravada pelos Los Hermanos; uma belíssima música sobre prostíbulos) e "Felicidade".
Faço aqui uma pausa para falar dum detalhe de menor importância. O que mais me impressionou em Odair José - um ícone do romantismo popular setentista - foi sua simplicidade e humildade. Era um olhar sincero, experiente. Mesmo com os elogios de Arnaldo Antunes e Otto sobre a importância de sua música, ele mantinha o olhar de pessoa humilde em direção ao público. O fato é que Odair José é um grande compositor ainda menosprezado pelos preconceitos das classes altas.
Mas o mais bacana mesmo foi a alegria claramente perceptível nos semblantes dos músicos cantando as pérolas de Odair ou de Antunes. Era um clima leve, como se fosse uma grande roda de violão nos fundos da casa de alguém. Tudo muito alegre e risível.
Bom. Todos nós teremos a oportunidade de (re)ver como foi esse show. O programa "Grêmio Recreativo Arnaldo Antunes" estreia mês que vem e promete ser sucesso de audiência.
Para mim, foi uma noite inesquecível - sem dúvidas, "uma das mais lindas do mundo", cantando abraçado com minha namorada e grandes amigos. Aliás, valeu Nevilton e Thiago Lobão pelos convites! Sem vocês, nada disso teria acontecido.
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