Breves comentários sobre o neonazismo xenofóbico europeu

Durante minha jornada em Londres, há dois anos, vivenciei certo episódio que simbolizou, para mim, a crescente onda xenofóbica europeia. Foi durante um jantar promovido pela "juventude conservadora" inglesa (uma organização de apoio ao Conservative Party) lá no London Zoo, local que trabalhava como barman e assistente de eventos.

Entre os intervalos das refeições (starter/main course/desert), ocorreram inflamados discursos contra a imigração, sustentando a tese de que Tony Blair e Gordon Brown haviam entupido o Reino Unido de trabalhadores do terceiro mundo, tomando os postos de trabalho dos ingleses e destruindo a cultura britânica.

Foi uma situação estranha. Os discursos xenofóbicos eram aplaudidos com emoção pela alta sociedade inglesa, enquanto servíamos suas taças de vinho tinto. Não me senti tão ofendido, pois estava na Inglaterra por um tempo determinado e com objetivos certos (estudar, trabalhar, viajar, me inserir na cultura inglesa), mas muitos de meus colegas de trabalho eram sim imigrantes: africanos, latino-americanos e leste-europeus que estavam em Londres em busca de uma vida melhor; de trabalho, estudo e dignidade.

O jantar foi logo após a crise econômica de Outubro, que assolou as potências capitalistas. A história se repetia e tudo fazia sentido. Os ingleses precisavam de um discurso milagroso. Precisavam de uma solução. E mais importante: precisavam de um inimigo, o mal de todas as causas.

Não deu outra. Os Conservadores ganharam as eleições para Primeiro Ministro e colocaram David Cameron como "Head of Her Majesty's Government". No Reino Unido, leis contra imigrantes estão sendo aprovadas, com o apoio da população, desesperada por empregos.

No resto da Europa ocidental, o mesmo tem ocorrido.

Na França, Zarkozy coordena um plano de expulsão dos ciganos e limpeza étnica, mesmo com protestos da população francesa e pedidos de suspensão de deportação por parte da Organização das Nações Unidas.

Aos poucos, grupos tradicionais do poder fomentam a propaganda direitista contra estrangeiros e apresentam uma solução pronta para os problemas econômicos gerados pelo próprio capitalismo tardio. A maioria da população, tola e cega, crê no discurso neonazista e, passivamente, aceita tais atos de violência velada.

Antonio Luiz Costa, da Carta Capital, escreveu um interessante texto sobre o Conto da Xenofobia na Europa que vale a pena ser lido.

Nós, aqui no Brasil, não estamos vivendo esse momento histórico (nos encontramos numa situação de meros espectadores). Somos frutos da miscigenação (por necessidade exploratória), mas isso não significa a impossibilidade de geração e desenvolvimento de ideologias direitistas, conservadoras e nazistas. Quem sabe, num futuro não muito longínquo (se formos mesmo essa prometida potência), não reproduziremos o mesmo discurso contra novos imigrantes?

Como ponderou Michel Foucault, ao prefaciar a obra O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia de Gilles Deleuze e Félix Guattari com o texto Introdução à vida não fascista, devemos nos perguntar sempre: "Como expulsar o fascismo que está incrustado em nosso comportamento?"

3 comentários:

  1. Penso até que ponto não temos uma xenofobia aqui no Brasil. Vemos o exemplo dos bolivianos e outros latino americanos que são explorados ao máximo na capital paulista e em outros lugares, trabalhando mais do que escravos e tendo uma vida paupérrima. Vejo discursos inflamados contra tal situação, não porque os direitos humanos estão sendo violados, mas porque estão tirando o trabalho de muitas pessoas, pois se submetem a uma situação análoga a de escravo.
    Talvez não tenhamos um discurso xenófobo devido ao fato de não estarmos numa crise, estamos um pouco mais longe de um colapso.

    Só que os discursos bairristas já são ouvidos há muito.

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  2. Acho que aqui isso também existe, e de uma forma pior e mascarada. Os nordestinos são praticamente vistos como imigrantes ilegais aqui no Sul e no Sudoeste..

    Quando eu estive em Londres, também vivi situações em que europeus se mostraram xenófobos..

    Enfim, gostei mto do texto. Poucas pessoas se atentam para esse assunto.

    Beleza de texto!

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  3. Gostei do texto e, ao mesmo tempo, fiquei (mais) preocupado, como vc deve imaginar...

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