Eu me orgulho da humanidade por ter inventado a cerveja. Não sei ao certo onde e como ela foi criada e desenvolvida e realmente estou sem saco de fazer uma pesquisa do Google, copiar e colar textos prontos, e fingir que sei tudo sobre cerveja.
O que eu sei foi o que aprendi ao longo dos anos de maioridade, principalmente no ano passado, trabalhando como bartender em Londres, tendo a oportunidade de servir e conversar sobre cerveja com pessoas do mundo todo. Na foggy-town tomei excelentes cervejas, pagando um preço muito baixo (comparado com o Brasil). De fato, na maioria das vezes eu nem comprava, mas simplesmente ganhava no final do expediente a chance de escolher qualquer cerveja do estoque e apreciar.
No velho continente, deixei o universo Lager brasileiro e finalmente conheci as tradicionais Ales e Stouts. Falo aqui dos tipos de cerveja, que é até ignorado por muitos conterrâneos, devido à falta de produção no mercado nacional de outros tipos de cerveja, sem ser Lager.
A Lager é a tradicional cerveja européia continental, de cor clara, fermentada em baixas temperaturas e depois armazenadas. A espécie mais famosa de Lager é a Pilsen, com maltes produzidos na região de Pilsen, República Tcheca. As famosas cervejas brasileiras (Skol, Brahma, Antártica) são todas Pilsen, ou seja, cervejas Lager que utilizam maltes semelhantes ao da região tcheca. Entretanto, o que se tem por aqui é uma cerveja extremamente aguada, que não respeita os padrões tradicionais de sabor.
Na Alemanha, um dos países de maior produção de cerveja Lager, a cerveja é produzida conforme a Lei de Pureza da Baviera, uma lei criada em 1516 que limitou a produção local alemã de cerveja a utilizar apenas três ingredientes: água, malte de cevada, lúpulo. Anos depois a lei foi editada, permitindo-se o uso de levedura.
As cervejas Weizen, ou também chamadas de Weissbier (cervejas de trigo), são os xodós dos alemães. Cervejas de coloração turva, não filtradas (o fermento permanece na cerveja), de sabor leve e muito agradável. Muitos alemães a consomem no próprio café da manhã. Sua classificação não é precisa, sendo que alguns consideram Ale e outros Lager, pelo fato de sua fermentação ser em temperatura intermediária.
Pra mim, a Weissbier não é nem Ale, nem Lager (pois tenho como Ale as cervejas no padrão inglês de fermentação alta). E também não é minha cerveja favorita. Quando estive em Berlim e Frankfurt optei pelas Lagers no lugar da Weissbier. Tomei a famosa Becks e a Berliner Kindl, cervejas excelentes, muito parecidas com a Heineken, apesar da Heineken ter um malte característico, único da região holandesa onde é produzida.
O contato mais honesto que tive com as Weizen ocorreu em Salzburg, na Áustria. Num bar de salsa, numa gélida noite de Janeiro deste ano, chamei o garçom e pedi a cerveja mais tradicional austríaca que ele tivesse. Ele retornou com uma garrafa de Edelweiss, com um belo copo. Abriu a garrafa, serviu lentamente com o copo inclinado uma parte da cerveja. Girou a garrafa algumas vezes, terminando de fermentar a cerveja, e despejou o restante de forma vertical.
Nesse final de semana em Maringá fui pela primeira vez na Confraria da Cerveja 1516, na Avenida Rio Branco, onde era o Fábrica Rock (local de tantos shows memoráveis do Frank The Tank). Fomos lá apreciar algumas cervejas especiais, depois de várias garrafas de Heineken no Estação 44. Como eu sempre digo, bêbado acha que está bem de grana. E nós fomos lá gastar dinheiro!
Realmente, o bar existe para apreciadores de cerveja. Não é um buteco pra você tomar incontáveis garrafas de qualquer cerveja gelada, mas sim um local onde a qualidade tem mais valor que a quantidade.
Quase chorei lendo o cardápio de cervejas. Quase chorei de saudades e dó do meu bolso ao ver os preços. Mas, hey! Fazer o quê? Estamos no Brasil, uma terra de desiguais.
Eu e a Pri optamos então por uma cerveja que tomávamos quase sempre. Nosso frigobar (tínhamos um em nosso quarto) estava sempre cheio de cervejas. Stella Artois, Heineken, Budweiser, Budvar, Corona, Newcastle Brown Ale, Guiness, Peroni. Nosso frigobar era muito democrático, devo dizer. E, ao lermos Czechvar no cardápio com o rótulo da Budvar, não tivemos muita dúvida. A Bud original da República Tcheca foi nossa escolha.
Muita gente não sabe que a Budweiser não é originalmente americana. A Budweiser é uma região da República Tcheca muito conhecida pela produção de excelentes cervejas Pilsen. A Budweiser Budvar surgiu em 1265, utilizando maltes da região e fermentação em baixas temperaturas, dando o sabor exclusivo dessa cerveja. Os direitos de uso foram comprados então por um americano, que levou a marca Budweiser para os Estados Unidos, utilizando a velha receita tcheca, mas com menos malte e lúpulo, dando um sabor mais leve à cerveja. A Bud americana se popularizou devido ao marketing de guerra utilizado pela empresa, mas o sabor nem se compara com a Budvar original, que utiliza o mesmo teor de malte e lúpulo que a Pilsner Urquell, tradicionalíssima cerveja tcheca, vendida pelo mesmo preço que água em Praga!!!
Está aí a foto da lata comprada por não sei quanto - que era mais barato que uma garrafa d'água. Outro ponto positivo: a cerveja não esquentava, considerando a temperatura de - 3° graus naquele dia em Praga.
Bom. Como a Budweiser americana detém os direitos de uso do nome em toda a América, a Budweiser Budvar é comercializada no Brasil com o nome de Czechvar.
Resumo da ópera: pagamos R$ 21,00 numa garrafa de 500ml da Budvar. Fazendo uma matemática rápida, essa mesma garrafa iria custar R$ 12,00 em Londres. Pode até não parecer muita diferença, mas para um inglês conseguir quatro libras é muito mais fácil do que um brasileiro conseguir doze reais.
Mas valeu a pena. A Budvar, assim como a Pilsner Urquell, tem um sabor suave, com um amargor no final do gole inexplicável. Acho que é assim que uma verdadeira cerveja tem que ser. Obviamente, não é uma cerveja de verão e considerando que o Brasil é verão quase o ano todo, não é uma cerveja que atingiria a massa, mesmo com um preço razoável.
O Rocha e a Lari fizeram uma boa escolha também. Escolheram uma Weizen, a Weihenstephaner, uma cerveja de trigo muito parecida com a Edelweiss, já mencionada, mas de origem alemã (maltes diferentes dos da Áustria). Aliás, essa cervejaria é a mais antiga registrada na mundo (ano de 1040). Ou seja: pura tradição.
Acho que já escrevi o bastante. Como você notou, cerveja é um assunto que rende um bom papo. E isso que eu nem comecei a falar das Ales e Stouts!
Por isso vou deixar essas cervejas para uma parte dois.
É isso. E fica a dica, sem fins lucrativos de minha parte, para quem quiser apreciar boas cervejas em Maringá: Confraria 1516 - um local de degustação! (considerando você ser uma pessoa de classe média, assim como eu. Caso contrário, enche a lata, rapaz!)
Até mais.
esse post vai render um desfalque no meu bolso e principalmente no do raoni. :~
ResponderExcluirhahahaha
deu sede.
ResponderExcluirOlá Rafael! Meu nome é Guilherme e sou proprietário do CONFRARIA 1516. Gostaria de agradecer pelos bons comentários sobre o bar. Espero que vocês retornem sempre que possível. Apenas uma correção a fazer: o endereço é Av. Curitiba, 289 e telefone 30252591. Abraços
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