Putz. Esse lance de não misturar as bebidas tem um fundo de verdade. A dor de cabeça tá pegando, e nem mesmo ir ao mercado a pé comprar goiabada com o cachorro na coleira deu uma aliviada.
Na minha frente tem uma garrafa de vinho do porto (Porto Cruz) vazia. Mal sinal. Acho que ela que é a vilã da história.
Tudo começou com uma oportunidade de beber de graça: inauguração do quiosque novo da Chilli Beans, no avenida center. Não gosto de shopping center. Me abomina a ideia de numa sexta a noite ir para o shopping, mas essa era uma ocasião especial. O Dé e a Fer (ambos funcionários) me convidaram e alertaram que teria goró "de borla" (de graça, como dizem em Portugal). Me programei com a Pri pra gente chegar lá umas 20h. Umas horas antes, a Vane e o Raoni vieram falar comigo na internet, e eu logo extendi o convite. Quem recusaria bebida de graça?
Chegamos lá e a movimentação estava grande. Todo mundo na fila esperando o barman fazer algum drink exótico com gelo seco. Depois de comprimentar a galera da loja e bater um breve papo, fomos pra fila do barzinho montado ao lado do quiosque. Música rolando, aquela cena toda, e eu ali querendo logo meu goró pra compensar o gasto com o combustível (tem que levar vantagem - não é o lema do brasileiro?).
Dá-lhe um drink. Dois (esse era bom: vodka, uva e menta). Três. Eu, de estômago vazio desde o almoço, já senti que estava bêbado. Digo isso porque bêbado sempre acha que tem dinheiro. Não importa, pode estar fodido (como é o meu caso), mas no fervor do álcool, tá tudo bem, é só jogar no cartão que está tudo bem. Enfim...surgiu a ideia de tomar chopp da Heineken no Estação 44.
Sentamos os quatro lá e pedimos uma rodada de chopp 500ml. Cara, que delícia. Matou a saudade dos pints de Heineken na Inglaterra. Lá, o sistema métrico para venda de cervejas e ciders é o pint, que equivale precisamente a 568ml (essa foto, em Brighton, mostra bem como é). Portanto, se algum inglês um dia te disser que foi ao pub e tomou dois copos de cerveja, não vá pensar que ele tomou aqueles copinhos americanos de boteco igual aqui no Brasil. Lá a pegada é mais forte.
Enfim, a empolgação estava grande e a Pri (que já tinha comprado um belo óculos na Chilli) pediu também uma batata com frango. Devoramos a batata e continuamos na Heineken, só que desta vez de garrafa.
O Raoni, mal elemento, fez então uma proposta tentadora:
- Tem quatro garrafas de vinho lá em casa e aquele restinho de vinho do porto pra sobremesa agora.
Fomos lá pro apê dele, nos blocos da UEM. Sentamos todos no colchão no quarto dele. Ele trouxe o vinho do porto e uma garrafa de merlot uruguaio. Desta vez, o Raoni estava com bons vinhos (no encontro precedente havíamos tomado duas garrafas de Quinta do Morgado)! Ele ligou o Mogwai no aparelho de som.
O vinho do porto esgotou-se. Partimos pro vinho tinto. A Pri, que tem uma facilidade incrível para derrubar as coisas (especialmente líquidos), teve a façanha de derrubar vinho tinto no edredon do Raoni logo na primeira servida. Eu acho que elas salvaram o edredon!
Não obstante os drinks com fumacinha, o chopp, a cerveja, o vinho do porto e o merlot, o Raoni nos deu o prazer de abrir um cabernet sauvignon. Só alegria.
Não sei porque diabos, ah foda-se, deu-nos na cabeça de falarmos igual ao Silva..ahhh, foda-se! Mas que caralho, pá. O Silva era um português de Lisboa, de voz potente apesar de rouca pelo fumo excessivo, que trabalhava no London Zoo como cleaner (faxineiro). Conversávamos muito durante as madrugadas. Ele é uma daquelas pessoas lendárias: quando jovem lutou pelo exército português na África. Dizia ele que ainda carregava traumas dos confrontos armados. Tinha insônia desde os 20 anos e acordava no meio da noite gritando, ouvindo explosões. Ele, com mais de 50 anos, também tinha divorciado e não via a hora de voltar pra Lisboa (a terrinha, como ele bem dizia). Odiava a Inglaterra e dizia estar lá somente pelo dinheiro.
Apesar da história de vida, dos dentes amarelos de cigarro e da aparência de mal-encarado, ele era uma das pessoas mais engraçadas do nosso convívio em Londres. Quando me via, abria um sorriso de longe e gritava: "Ôôô feio!!!". Xingava muito. Em toda frase, ele conseguia encaixar um foda-se no final. Reclamava muito, com humor ácido. Tinha também mil gírias engraçadas, como todo português. Era fã de música brasileira. Era muito comum eu estar andando durante a madrugada de um prédio para o outro dentro do Zoológico e ouvir o Silva cantando: "Tô fazendo amooooorr...com oooooooutra pessoooooaaa". Coitado dos pinguins.
É uma pena que eu não tenha nenhum vídeo do Silva. Tenho somente duas ou três fotos. O que restou foram as boas lembranças deste velho português fã de Roberto Carlos e sua velha máxima: Está uma merda isto aqui, foda-se!
Bom...depois de rirmos muito imitando o Silva (até o Raoni e a Vane, que não conheceram o figura, estavam imitando o cara!), a Pri apagou. Acho que foi o Mogwai.
Era uma da manhã. Nos despedimos, e o Raoni me deu a charmosa garrafa verde do vinho do porto de recordação.
Fiz uns caminhos undergrounds, de rua em rua, para evitar as avenidas e alguma eventual blitz. Tudo tranquilo, Maringá dormia em sono profundo, igual a Priscila ao meu lado enquanto eu dirigia.
Desmaiei na cama. Que estupidez, deveria ter comido algum doce e tomado uns cinco copos d'água. Desta forma não estaria com essa incômoda dor constante, que me leva sempre à ilusória e efêmera conclusão de que "nunca mais vou misturar as bebidas".
rafa, adoro ler as coisas que você posta aqui e sempre leio tudo! (quando eu leio). haeheahae seguinte, não sei se você vai ver isso aqui a tempo (é só pela graça do comentário) mas domingo tem reuniãozinha de migos lá em casa. te dou um toque, faveladinho de bosta, :*
ResponderExcluiruheuhuehuehueuhe, muito bom relembrar do silva...
ResponderExcluire eu vou deixar passar o "na primeira vez que serviu"
hun ;\
hehe te amo.
sempre e cada vez mais.
\o/
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