A polícia repressora de São Paulo

Semana passada tive uma reunião dos monitores de Sociologia Jurídica no Largo São Francisco, marcada para as 19h de quinta-feira.

Como a passagem de ônibus está indigesta (R$ 3,00), preferi ir a pé. No suado caminho, passei pelo Viaduto do Chá e pela Prefeitura Municipal de São Paulo e me deparei com centenas de pessoas com bandeiras, piquetes e panfletos protestando contra o aumento arbitrário e injustificado, realizado através de um decreto pelo Prefeito Gilberto Kassab (DEM), da tarifa de ônibus - que aumentou quase 10% no início deste ano, prejudicando assim trabalhadores e estudantes que dependem deste serviço público essencial.

Queria participar, mas não pude. A reunião me esperava; precisava debater os critérios e métodos de avaliação dos seminários que monitorarei esse ano. Passei então pelos manifestantes e segui meu caminho até o Largo. A polícia observava o início do protesto à distância.

Meia hora depois, da janela do 2º andar do prédio anexo da Faculdade de Direito, comecei a ouvir os gritos, os tiros e as bombas vindos do local do protesto. Entretanto, ninguém esboçava reação. Acho que estão acostumados. Parecíamos uma família inglesa sentada à mesa de jantar num casebre da Regent Street em pleno bombardeio nazista. Preocupado com os barulhos, me virei para um colega da pós-graduação: "- Tá ouvindo esses tiros? É lá do protesto contra o aumento do ônibus". Ele então me respondeu calmamente: "- Aqui é assim mesmo. Quando tem manifestação a tropa de choque parte pra cima". Voltei a me concentrar no tema de nossa reunião. Depois de alguns minutos, a gritaria acabou.

Eis o que aconteceu lá: violência, repressão e uso abusivo do aparato policial.



Às nove da noite, quando encerrou a reunião, fiz o mesmo trajeto de volta a pé e vi somente os vestígios de um campo de batalha marcado pelo confronto da polícia repressora de São Paulo contra manifestantes que exigiam pacificamente a revogação do arbitrário decreto que aumentou a tarifa do ônibus sem um processo decisório democrático e justificado.

É assim que o poder municipal lida com reivindicações populares por aqui. Dá pra acreditar?

Pelo menos a pancadaria foi democrática. Todo mundo levou bordoada.

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