Ontem estive novamente em Curitiba para realizar a terceira fase do processo seletivo do Mestrado em Direito da Universidade Federal do Paraná. O dia, seguindo o padrão curitibano, começou gelado. Desembarquei na estação rodoviária (imortalizada neste clipe do Charme Chulo) com um céu cinzento e gelado (por volta dos 13º C).
Cheguei na casa do Michel por volta das oito da manhã e tomei um café com meu velho chapa. Passei a manhã discutindo alguns temas jurídicos, jogando conversa fora e ouvindo Beatles. Depois de tirar um cochilo, fomos almoçar no Bar do Toninho, ali na avenida Presidente Kennedy (aliás, se for pra economizar, vale a pena - o almoço, incluindo o suco de limão e o cafezinho sai por R$ 7,50).
Neste horário, já fazia o tradicional sol do meio-dia de Curitiba - que obriga todos os seus habitantes a tirar suas blusas e carregar nas mãos até o final da tarde, quando precisam vestir novamente para evitar o frio sorrateiro da noite curitibana.
Pegamos um ônibus bi-articulado e descemos ali na Quinze de Dezembro, quase em cima do horário marcado pra prova (14h).
Fizemos provas em diferentes áreas. Eu indiquei a disciplina de Teoria Geral do Direito (aproveitando o embalo da USP) e ele Processo Civil. Minha prova não estava muito complexa. Praticamente, foi uma prova sobre positivismo jurídico. Veja só as questões (se você é do Direito, vai entender o quero dizer): 1. Conceitue a regra de reconhecimento para Herbert Hart e explique sua função no sistema jurídico; 2. Explique as relações existentes entre a Teoria da Norma Jurídica e Teoria do Ordenamento Jurídico de Norberto Bobbio; 3. Discorra sobre o princípio da pureza metodológica em Hans Kelsen; 4. Discorra sobre a dicotomia jusnaturalismo x juspositivismo.
Escrevi um almaço inteiro e saí da prova depois de duas horas. Em seguida, me dirigi a um dos locais que mais gosto de ficar parado (observando as pessoas e o clima da cidade) quando estou na capital paranense: a entrada principal do prédio da Santos Andrade, onde fica a faculdade de Direito.
Além do Michel, encontrei algumas pessoas bacanas por ali (nesse local sempre encontro alguns amigos em Curitiba ao acaso, é incrível!), como o Leonardo Fernandes dos Santos - colega de Maringá que está tentando o Mestrado em Direito Constitucional -, a Silvia Horta - grande amiga dos tempos do colégio - e o Mozart Silvano Pereira - acadêmico de Direito da UFPR e leitor deste humilde blog, que me reconheceu pela foto da página principal!
Fico fascinado quando conheço alguém em razão do blog. De fato, compartilhar aqui neste espaço virtual algumas de minhas ideias e reflexões só tem me trazido benefícios e coisas boas.
O Mozart, por exemplo, leu o que escrevi dias atrás sobre o jovem Marx e a questão dos direitos humanos e me enviou um belo texto sobre a crítica marxiana ao direito (e numa passagem do seu texto, ele conclui que: "não é difícil perceber que a argumentação marxiana em torno do Direito se difere daquele tosco e reducionista esquema de infraestrutura/superestrutura, em que a economia estabelece mecanicamente as coordenadas para o resto do ser social. O que não quer dizer que o trabalho e as relações de produção material da vida não tenham um papel de extrema importância no condicionamento de como uma dada sociedade se organiza e funciona em um dado momento. Na verdade, se há uma lição nessa crítica do Direito e do Estado feita pelo jovem Marx é a de mostrar que pelo fato do Direito estar lastreado no funcionamento da sociedade burguesa, ele nunca atacará o seu fundamento último, que são as relações sociais entre os homens sob o capitalismo. O Direito/Estado se encontra circunscrito pelo manto do capital, de modo que as instancias jurídicas não tem o condão de questioná-lo ou modificá-lo. É lógico que existe, de fato, uma autonomia do Direito/Estado frente às outras esferas da sociedade. Mas trata-se de uma autonomia relativa: ele pode claramente se mover e realizar diversos tipos de ações diferentes, desde que sempre dos limites colocados pela sociedade civil. Sempre que o Direito demonstrar que está sendo formulado em um sentido contrário ao funcionamento da economia capitalista, sua ação - seja uma lei, uma decisão, etc. – pode até alcançar validade, mas dificilmente produzirá efeitos").
Esse tipo de intercâmbio de conhecimento é um fruto bacana que colho do blog. Vale a pena escrever por isso.
Bom. Depois de bater um papo com a Silvinha e o Mozart, saí com o Michel em direção a um boteco barato para uma gelada. Andamos algumas quadras na Quinze e paramos numa bodega chamado "Come Come Parceria", quase na esquina da Dr. Faivre.
Quando sentamos tinha pouca gente no bar. Abrimos uma Antártica e ficamos ali conversando sobre a possibilidade de mudarmos para São Paulo, entre outras coisas.
O bar aos poucos foi enchendo. De repente, assim do nada, chegaram dois rapazes carregando uma enorme Jukebox para dentro do bar. Pois é. Isso mesmo: uma Jukebox daquelas que você coloca uma nota de R$ 2,00 e escolhe quatro músicas pra tocar (algo do tipo).
De cara, ligaram um funk daqueles bem safados no aparelho. Foi de doer. Mas daí algum sujeito bem sagaz foi até a máquina e gastou uma grana para fazer uma seleção de blues e rock n' roll: colocou pra tocar Deep Purple, Eric Clapton, Led Zeppelin, AC/DC, etc. Foi a salvação!
Quando vi, o bar estava lotado de estudantes. Bebemos meia dúzia de garrafas e partimos de volta para a casa do Michel. Lá, outro Michel (o tatuador, que também mora lá) nos esperava pra fazer um strogonoff de frango.
E não é que o cara cozinha muito? Comemos, em quatro pessoas (eu, os "dois Michels" e o André) uma panela enorme de strogonoff com batata palha e arroz e tomamos mais algumas cervejas.
Daí veio a ideia maravilhosa da noite: "que tal jogarmos um basquete na Praça Bento Munhoz da Rocha Neto?" - pois é, parece insano pensar em jogar basquete as dez da noite depois de uma pratada de strogonoff e algumas cervejas. Mas nós fomos. Enchemos uma caixa de isopor com algumas long-necks e partirmos para a praça.
Jogamos por quase uma hora - e meu físico está deixando a desejar, constatei isso ontem - e queimamos grande parte dos carboidratos consumidos no arroz e na batata! Depois, saímos correndo pois ainda tinha que arrumar minhas coisas, tomar um banho e chegar na rodoviária antes de 23h30m, em razão do meu ônibus de volta para Maringá.
Mas deu tudo certo. Com sucesso, cheguei na rodoviária na hora certa (na última vez, a gasolina do Fusca do Johnnie acabou no meio do caminho e eu acabei perdendo um ônibus para Guarapuava, onde iria apresentar um trabalho).
No ônibus, encontrei outro amigão: o Felipe Spack, advogado e militante do movimento popular em Curitiba. Conversamos tanto que, em certa hora, uma menina virou-se para trás e pediu para pararmos de conversar, pois nosso papo estava atrapalhando seu sono. Foi chato. Mas paramos de conversar, em respeito ao pedido da pobre menina que iria defender uma monografia em Economia na manhã de hoje (pelo menos, esse foi o motivo que justificou seu pedido).
Liguei o iPod e dormi igual uma criança. O dia tinha sido longo. Pense bem: além de fazer a prova do Mestrado, que é um grande esforço intelectual, fiz um baita dum esforço físico e hepático.
soube que tu já passou na usp mas torço por você também aqui
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