Edgar Allan Poe terá um funeral

Incrível. Acabei de ler na BBC News que Edgar Allan Poe, um dos maiores escritores americanos do século 19 (e um dos mais macabros também), terá um "funeral decente", 160 anos após a sua morte, considerando que ninguém compareceu ao seu funeral em Outubro de 1849, pois sua morte não foi pública em Baltimore.


Allan Poe teve uma vida realmente curiosa. Vale a pena conhecer um pouco mais sobre o mestre do macabro, que vinha de família rica, mas que não tinha o menor interesse por negócios ou luxos, mas sim tinha uma paixão pela escrita fora do comum. No mais, vivia em constante embriaguez, depressões, melancolias e que dizia estar quase sempre num estado de miséria.

Poe tinha uma mente interessante. Era sincero. Acho que estas confissões dão uma ideia de como sua mente funcionava de forma depressiva:

"Cometi apenas um erro. Não soube ser feliz. Nunca: nem um só dia, nem sequer uma hora. A própria criação, um prazer para os poetas mais sensíveis, foi para mim sempre mais angustiante que redentora. A causa primeira do meu infortúnio conheço-a agora. Tive sempre medo da vida. De uma sensibilidade exacerbada e doentia desde a mais tenra infância, atormentada e mortificada até a exaustão pelo infortúnio e pela miséria, a vida banal, as realidades quotidianas constituíam para mim uma fonte constante de terror. Tinha a impressão de viver continuamente suspenso no limite de dois reinos - ser uma criança semimorta unida em laço misterioso a um espectro nostálgico. A criança tinha medo da treva; o espectro da luz. Uma e outro aspiravam à morte e, simultaneamente, receavamna. A vida era para mim aborrecimento, alucinação, condenação. Cada vez que eu tentava reconciliar-me com ela saía maltratado, repelido. Fazia-me o efeito de um anjo que pretendesse participar num banquete de monstros. O próprio amor não logrou salvar-me porque a mulher é uma das mais perfeitas encarnações da vida, e eu tinha da vida um indizível terror. Todas as mulheres que julguei amar ou fugiram de mim, ou estão mortas. Uma vez mortas, e só então, elas pareciam realmente minhas amantes na eternidade, as únicas que poderiam amar um homem segregado da vida. Para escapar às minhas visões terrificantes, aos meus pesadelos, às tentações de minha razão delirante, um gênio forçava-me a escrever, senhor mais titânico e exigente que um demônio. Escrevi, pois, toda a minha vida poemas, narrativas, contos, tratados, ensaios. Porém, mal experimentava a ilusão de pela poesia ter exorcizado a perseguição dos meus pavores, logo outras alucinações, outros pesadelos, outras bizarrias macabras e fúnebres assaltavam sem trégua a minha pobre alma acabrunhada. Então, como última esperança do meu desespero, buscava socorro no álcool, que, aliás, abominava."

Bruninho, prometo que devolvo seu livro do Poe o mais breve possível!

Man, you should have seen them kicking Edgar Allan Poe (I Am The Walrus)

2 comentários:

  1. isso aconteceu porque ele desapareceu, depois foi encontrado bêbado e alucinado, vagando por Baltimore, não sabiam se era ele mesmo, é o que dizem, não sei, só estou repetindo, e a história das rosas e do conhaque que um misterioso deixa em seu túmulo todo ano misteriosamente? já se armou tocaia para se desmascarar o misterioso admirador macabro, mas não se obteve sucesso. não se preocupe em devolver o livro logo, mas preocupe-se em devolvê-lo quando terminar. melhoras, amigo. que Borges/Poe/Hatoum te ajudem no caminho.

    ResponderExcluir

Mais lidos no mês