"Blog do Zanatta": um veículo de comunicação alternativo?

Agora pela tarde (desta que é a última segunda-feira de 2010), depois de três festivos dias natalinos passados numa pousada próximo a Curitiba com a família de minha namorada, abri meu e-mail e li uma mensagem enviada por Flávio Silva, promotor de diversos eventos em Maringá. O e-mail, na realidade, era um lembrete para a (já) tradicional votação dos "melhores do ano", promovida pela Sonic Flower Club.

Como escrevi ano passado, trata-se de "uma votação on-line anual feita pelos freqüentadores dos eventos organizados pelo Flávio Silva (criador da SFC), na qual o público maringaense tem a chance de expressar suas opiniões sobre os melhores shows do ano, as melhores bandas locais, as melhores bandas de fora, a banda revelação, o melhor álbum lançado, entre outros". É, portanto, uma grande brincadeira para relembrar bons momentos vividos no ano e filtrar as melhores coisas que aconteceram no cenário musical.

Ano passado, além do prazer de apresentar um prêmio na festa, concorri ao "melhor blog do ano", ao lado de importantes blogs maringaenses, como o Espora de Galo, T.Recs e o Culturanja.

Na época, fiquei lisonjeado e surpreso ao mesmo tempo, pois, como o leitor deste blog bem sabe, este não é um espaço de um só tema, como o musical. Como expliquei certa vez (e a explicação ainda é válida), "falo de todo o universo que me cerca: situações cotidianas, pensamentos que beiram o medíocre, alguns bons livros, direito e música".

Portanto, a indicação como "melhor blog" numa premiação que tinha por objeto o cenário musical maringaense me causou espanto - e, como eu previa, o "Espora" (do jornalista Thiago Soares) levou o prêmio.

De qualquer forma, foi bom saber que o blog tinha leitores. Afinal, ninguém quer escrever para nunca ser lido - e quem disser o contrário está mentindo.

Hoje, ao ler a lista de votação deste ano, fiquei extremamente contente ao ver o nome da minha banda, "Nanan" - a qual sou guitarrista, ao lado do Renan (que está em Honolulu, no Havaí), Bruno Rocha, Marcos Shiozaki e Roger "Lonely Wolf" - listada em duas categorias: a) melhor banda maringaense; b) melhor show de banda maringaense.

Achei bacana o reconhecimento pelo trabalho realizado neste ano; afinal, fizemos bons shows e nos divertimos muito tocando em Maringá. Somos a melhor banda de Maringá? Não sei, acho que não (e se dissesse que sim soaria como um dos irmãos Gallagher), mas penso que merecíamos essa indicação, especialmente por validar todo o esforço realizado pelo grupo para fazer chegar aos ouvidos maringaenses as belas composições do Renan.

Pois bem. Além destas indicações bem bacanas, a Sonic Flower elaborou uma nova categoria (inspirada nas votações do MTV) chamada "banda dos sonhos" e listou meu irmão Renan Zanatta (merecidamente) como potencial "melhor frontman" e eu como "melhor guitarrista" (!?).

Acho extremamente válida a primeira indicação e hilária a segunda. Meu palpite é que quem elaborou a lista não sabe tocar guitarra, pois tem muita gente melhor na cidade! Mas tudo bem, foquemos no Renan: talvez ele seja, de fato, o melhor cantor de banda independente de Maringá (alguém discorda?).

Bom. Se não bastassem todas essas indicações por qualidades artísticas (alguns merecidos, outros nem tanto), uma me chamou especial atenção e é o tema central deste post: a indicação deste blog como "melhor veículo de comunicação alternativo maringaense".

Afinal, o que se entende por veículo de comunicação alternativo? E mais, esse blog se enquadra dentro desta classificação?

É impossível refletir sem alguns conceitos e referências - e espero não irritar aqueles que não suportam minha inevitável tendência acadêmica.

Com uma rápida pesquisa no Google Books, me deparo com a seguinte reflexão de Regina Vieira: "é preciso considerar também o contexto em que surge o alternativo, principalmente quando nos referimos a um meio de comunicação. Isto é, precisa-se verificar o contexto em que este alternativo está inserido; para ser verdadeiramente alternativo não basta que um meio de comunicação esteja, por exemplo, às margens da rede de distribuição da grande imprensa. Porém, este meio deve ter uma diferença qualitativa em relação a um veículo de comunicação de massa, por exemplo: levar a um questionamento do status quo".

Muito bem. Então estamos no caminho certo: não basta ser marginal, mas é preciso ter uma diferença qualitativa com relação ao grande veículo de comunicação, como, por exemplo, levar a um questionamento crítico sobre o panorama atual. Este, aliás, é um dos objetivos principais do blog: fazer com o que leitor reflita comigo sobre alguns temas que considero importante, seja música, política, direito, economia, cultura.

Há ainda uma definição interessante, que revela que "comunicação alternativa é sempre uma prática daqueles que, sentindo-se dominados cultural, econômica, política e socialmente, buscam espaço para se expressar. Este conceito parece referir-se, à primeira vista, de modo impreciso, tanto à necessidade de opções originadas na própria estrutura unidirecional dos meios, como no regime de propriedade e controle, isto é, no monopólio que sobre eles exercem os detentores do poder" (GRINBERG 1987, p. 19).

De fato, comunicação alternativa é isso: um reflexo da insuficiência dos meios tradicionais de comunicação em tratar de temas de nosso interesse, fazendo que algumas pessoas assumam o posto de geradores de informação que encarnam concepções diferentes ou opostas às difundidas pelos meios dominantes.

E o que é esse blog?  Não é possível estabelecer uma ontologia (o que é), mas ele pode sim ser considerado alternativo na medida em que opõe-se ao meramente complementar ou marginal, pois implica, embora em níveis variáveis, um questionamento do status quo (e, neste ponto, eu assumo a definição conceitual de Máximo Grinberg).

Mas qual é a relação disso com a música? Questionar e refletir tem a ver com música independente?

Bom, pode ter tudo a ver; da mesma forma como não pode ter relação alguma, especialmente se se assumir a música independente como produto para fins de ostentação social - assim como o fazem muitos dos que se dizem indie, na esperança de serem considerados mais cool que os outros ou estarem acima dos gostos populares (estes são tão medíocres quanto aqueles que pensam ser inferiores).

O rock independente é uma forma legítima de espontaneidade artística que está desvinculada da indústria cultural, a qual detém também os veículos de informação responsáveis por filtrar (e vender) aspectos da realidade que se supõem de maior interesse para os receptores.

Os blogs que publicam conteúdo informativo sobre essas bandas independentes rompem com o monopólio de seleção e hierarquização das informações dos grandes meios de comunicação. É uma demonstração legítima de contestação do poder, de protesto, de autonomia na condução social.

Portanto, um blog de música independente, indiretamente, é também um locus no qual é possível notar aspectos sociais e políticos do nosso tempo. Por isso penso ser impossível falar de música alternativa sem estabelecer relações com o contexto social que vivemos. É claro que quando ouço uma boa música, não penso em toda a opressão que vivo e os conflitos existentes, mas há sim uma relação intrínseca entre música e crítica, principalmente quando se fala em música independente/alternativa.

Com base nessas breves reflexões, aceito a honrosamente indicação, mas duvido que o termo "veículo de comunicação alternativo" tenha esse complexo significado.

É claro que é  algo mais simples - uma lista dos blogs que escreveram (mesmo que não exclusivamente) sobre música independente durante o ano de 2010 -, mas é sempre frutífero pensar um pouco além e ampliar a discussão.

Se depois da leitura do texto ainda tiver paciência, visite o site da votação e escolha os melhores do ano. A votação vai até 15/01.

Se expresse, assim como eu já faço aqui (neste assim chamado "veículo de comunicação alternativo").

E feliz 2011!

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