Esquerda, Direita e outras vias

Um amigo, historiador, me enviou hoje um texto do Luiz Felipe Pondé intitulado "A mulher, o bebê e o intelectual", publicado na Folha de São Paulo, e recomendou-me a leitura. Escreveu o amigo na mensagem: - Em geral não gosto dos textos do Pondé, mas eu, que não sou anti ou pró esquerda, embora seja declaradamente anti direita, já havia feito crítica à postura revolucionária que, 'toma vinho chique em um ambiente burguês seguro'. O texto é uma crítica aos defensores da velha esquerda, que "se mostram amantes da 'democracia e da liberdade', mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ('real', como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia", como afirma o ícone do pensamento conversador brasileiro.

Li o texto e respondi ao colega de História: - O texto é bom e tem fundamento. O Pondé gosta de polemizar. Ele às vezes acerta. Mas também erra. O debate com Marcos Nobre ('Desentendimento', da Serrote) mostra suas falhas. Suas críticas à 'velha esquerda' são válidas, mas não quando se trata do 'devir esquerda' num ambiente democrático, que busca aprofundar a democracia. Ele respondeu segundos depois: - De fato, bater na velha esquerda é fácil, o problema, no entanto, é a maneira como ela está encastelada nas instituições, principalmente nas universidades, untando com ranço as engrenagens da construção do conhecimento histórico. Isso só não é pior do a direita 'quase' religiosa, igualmente rançosa e hipócrita

De fato, parece-me que Pondé iniciou uma batalha contra o pensamento de esquerda de séculos passados, mas custa a reconhecer que há uma modalidade de pensamento crítico - um certo posicionamento de esquerda - que busca aprofundar a experiência democrática e suas instituições, sem dogmatismos ou crenças utópicas. O debate que fiz referência, mediado por Otávio Frias Filho (Folha de São Paulo) e chamado de "Desentendimento", mostra justamente esse ponto (o que é a esquerda do século XXI), tal como sustentado pelo filósofo Marcos Nobre.

Não sei qual é a dificuldade dos pensadores de direita em entender que há pessoas "de esquerda" que julgam a experiência do socialismo real um fracasso total, um erro histórico que não deve ser repetido. Mas tal postura crítica não implica necessariamente em abandonar o ideal emancipatório da esquerda e a tentativa de construção de uma sociedade verdadeiramente democrática, que permita que cidadãos informados possam imaginar e debater os futuros alternativos.

Eis o debate entre Marcos Nobre e Luiz Felipe Pondé, pensadores de matrizes polarizadas. A discussão, felizmente, é bastante civilizada. Os vídeos estão divididos em cinco blocos. Vale a pena conferir. Ao final, diga-me: Pondé tem mesmo razão?



3 comentários:

  1. Olha, eu achei o texto em questão horrendo, uma verborragia maniqueísta, ainda mais depois de assistir aos vídeos: Pondé reduz todo comunista a stalinista, quando sabe muito bem que não é assim.

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  2. Acho que às vezes o Pondé prefere polemizar que racionalizar...

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  3. Debate bem limitado. Quem mais apanhou ali foi a lógica, coitada. Mas já tinha certeza de que um debate entre a esquerda progressista e a esquerda reacionário não daria em muita coisa positiva. Pelo menos percebi que os textos do Pondé servem apenas pra ridicularizar as contradições da esquerda universitária e trazer um pouco de humor pra cena.
    Outro ponto construtivo foi confirmar, pelas próprias palavras do Marcos Nobre, que a "nova esquerda" é exatamente igual à tal da velha esquerda - como se houvesse realmente diferença - e que nem ele percebe isso.
    Ah! gostei também da piada do Nobre sobre o início da desregulamentação financeira com o acordo de Bretton Woods, essa foi a maior! Dizer que a imposição política do dinheiro fiduciário e o controle político de seu preço, o juro, por meio do estado e sua crescente regulamentação, proibindo o dinheiro voluntário, o ouro, e a liberdade de mercado foi de tamanha contradição que só pode ser pra brincar com o público.

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