Paraíso do Rock 2011: um bate-papo com Beto Vizzotto

Certa vez, contra-argumentei o boato de que Maringá seria a "Seattle brasileira" (em razão do número de bandas de rock e de uma suposta cultura do rock) e defendi a tese - amplamente aceita - de que a Cidade Canção é, de fato, o reduto do sertanejo universitário, gênero musical que hoje garante o funcionamento da indústria cultural brasileira. Entretanto, há poucos quilômetros das avermelhadas terras maringaenses, existe uma cidade com menos de 12 mil habitantes que se firma como uma das maiores incentivadoras do rock independente do sul do país e que talvez mereça esse título: trata-se de Paraíso do Norte, município que promove há três anos o festival Paraíso do Rock, notadamente um dos principais festivais de rock independente do país.

Os dados impressionam. Em julho de 2008, mais de 500 pessoas conferiram os shows das bandas Terminal Guadalupe (Curitiba), Aerocirco (Florianópolis), e Nevilton (Umuarama). Na segunda edição - que contou novamente com Nevilton, a extinta Relespública (Curitiba) e Wander Wilder (Porto Alegre) -, o festival reuniu quase 700 pessoas. Em 2010, com um line-up que incluía Identidade (Porto Alegre), Charme Chulo (Curitiba) e Lenzi Brothers (Balneário Camboriu), o Paraíso do Rock teve um público de mil pagantes (aproximadamente).

Para que o leitor possa entender a dimensão do festival e sua importância no cenário independente local, conversei virtualmente com um dos mentores do evento, o Prefeito do Município de Paraíso do Norte, Carlos Alberto Vizzotto, também conhecido como Beto Vizzotto. A "entrevista" mostra que a promoção da cultura local e independente (bandas autorais, por exemplo) é possível e desejável, desde que haja um mínimo de organização e parceria entre a população interessada e o Poder Público. O Paraíso do Rock - que conta com apoio da Caixa Econômica e do Governo Federal e patrocínio da Itaipu Binacional graças aos esforços do Prefeito - é prova disso.

"Banda maringaense A Sexta Geração da Família Palim e o Prefeito Beto Vizzotto. Foto: Everton Pardal".


O festival Paraíso do Rock apresenta números impressionantes, reunindo na edição passada 1.000 pessoas apenas com bandas de rock não vinculadas a grandes gravadoras. O que explica o sucesso de um festival independente numa cidade de 12.000 habitantes?

Beto Vizzotto: Concordo com você, 1000 pagantes num festival de rock alternativo numa pequena cidade do interior é realmente algo para se comemorar. Bom, atribuo o sucesso do festival: primeiro, à proposta de buscar bandas autorais de qualidade; segundo, às parcerias com rádios jornais, blogs de rock, entidades (APMI, CTG, entre outras); terceiro, ao envolvimento da comunidade e do poder público; quarto, à paixão pelo rock de um grupo de amigos (não necessariamente nesta ordem).

O website do festival diz que a “cena se organizou em 2008 e o Paraíso do Rock se estruturou como festival independente”. O que é e quem faz parte dessa cena?

Beto Vizzotto: Desde o fim da década de 80, a gente já fazia festas de rock em Paraíso com bandas da região. A cena aqui é diferente: reune meus amigos que são da década de 60, passa pela geração do rock nacional da década de oitenta, e reune principalmente a geração dos meus filhos - garotada que estuda nas universidades do Brasil afora e volta para Paraiso nas férias ou quando tem uma festa legal. Toda essa galera reunida é a cena roqueira.

Um fato interessante do Festival é sua capacidade de reunir bandas autorais que trabalham duro para divulgar seus discos independentes (Terminal Guadalupe, Aerocirco, Nevilton, Wander Wildner, Zefirina Bomba, Relespública, Charme Chulo, Família Palim, Bandidos Molhados, Superguidis, e agora Matanza, Walverdes, Daniel Belleza, Motormama e Giovanni Caruso). Como se dá a seleção dessas bandas? E qual é a reação de artistas de grandes cidades (como Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro) de tocar numa desconhecida cidade do noroeste do Paraná?

Beto Vizzotto: Procuro escolher as bandas que gosto, mas sempre troco ideias com a "gurizada" que curte o rock, e assim vamos fechando o line-up. Aí entra a parte mais complicada, que é encaixar as bandas no orçamento restrito do festival. A reação das bandas tem sido surprendente, pois a marca do festival é a amizade: nós recebemos as bandas aqui em casa com churrasco, cerveja e muitos amigos. Este diferencial encanta as bandas que não vêem isto nos shows tradicionais (o Wander Wildner me disse que, num certo show, uma van o pegou no aeroporto, levou-o ao hotel, depois pro show, novamente para hotel, e no outro dia para o aeroporto. Ele não conheceu nem o produtor do evento). 

Você é declaradamente um “prefeito do rock”. Qual a influência do Departamento de Cultura da Prefeitura do Município na organização deste festival? Na sua opinião, ele existiria sem o apoio do Poder Público?

Beto Vizzotto: O Poder Público é apenas uma parte do projeto. Importante, sim, mas não a única. Talvez demorasse mais para chegar neste porte [sem o apoio do Dep. de Cultura], mas quando sair da prefeitura o festival vai continuar.  

Para finalizar, qual a grande mensagem que o Festival Paraíso do Rock deixa para a sociedade?

Beto Vizzotto: O Paraíso do Rock deixa a mensagem da inclusão cultural, da solidariedade e de vida longa ao rock and roll.

O Paraíso do Rock acontece nos dias 15 e 17 de julho no CTG e conta com os shows de Walverdes, Daniel Beleza, Brian Oblivion, Giovani Caruso e o Escambau, Matanza, Motromama, Kozmic Gorillas e Nevilton. Para informações, histórico do festival, dados do camping, clipes das bandas e download do cd com músicas das bandas que tocam no festival, ver o site: http://www.paraisodorock.com.br/.

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