Observando o novo

"Geopoliticus Child Watching the Birth of the New Man"  (1943), Salvador Dali

"O formato antigo de agremiações centralizadas, coesas numa verdade e altamente disciplinadas, não cabe mais, pois não há mais Palácio de Inverno a se tomar. Num capitalismo globalizado, difuso e sem centro, a exploração se imiscui nas frinchas do cotidiano. Qualquer resistência eficaz deve ir além de dogmáticas e coletivos duros, para mexer com a produção de subjetividade. Nesse sentido, a Praça Tahrir, o 15M e, em menor grau, as marchas brasileiras de 2011, exprimem um caminho bastante oportuno. Mais que isso, nesse contexto, a constituição de redes produtivas autônomas (como os Pontos de Cultura, os coletivos de rap e hip-hop, a blogosfera de esquerda, o Fora do Eixo etc), o código colaborativo do software livre e da wikipídia, e mesmo o singelo ato de baixar e compartilhar conteúdos livremente pela internet, — tudo isso se torna imediatamente político e resistente.

Mas não deslumbremos. Em tempos de super-fluxos e redes de redes, não percamos a lucidez. Nada substitui a ocupação de ruas e praças. Nada substitui “uma rebeliãozinha de vez em quando“, o que, para Thomas Jefferson, é constitutivo da democracia. As marchas têm o papel de resgatar o movimento de rua, que a internet jamais substituirá. As novas formas de organização qualificam a ocupação intensiva do espaço público, jamais a dispensando. A força das redes não fica apenas no online, mas na articulação nas texturas urbanas, na organização e funcionamento da metrópole. Na realidade, o capitalismo condiciona os espaços, ritmos e escoamentos da cidade numa matriz totalmente contingente, que colapsa rápido nessas horas de rebelião. Como por sinal se viu em Túnis, Tahrir, Pérola, Puerta del Sol e Praça Catalunha, — que nada significariam se as pessoas não tivessem saído de suas casas para as mil crônicas da rua. Tomar ruas e praças continua essencial em qualquer democracia e deveria ser o hábito por excelência do cidadão".

Leia o resto aqui ('Marchas, revolta e geração', por Bruno Cava).

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