Rock em Maringá: yo lo tengo?


Ontem, depois de passar a tarde tentando escrever sobre o conceito plurívoco de globalização (com o suporte teórico de José Eduardo Faria, André-Jean Arnaud e Eros Grau), montei umas caixinhas de som na sala, subi a cerveja no freezer, pluguei o iPod e coloquei pra tocar o disco I Can Hear The Heart Beating as One (1997), do Yo La Tengo.

Comentei no twitter: @rafa_zanatta Hora de abrir uma cerveja ouvindo "Sugarcube" do Yo La Tengo. Um amigo então respondeu: "Vc foi no lendário show deles em Maringá, uns 8 anos atrás?"

Respondi que não, pois, se não me engano, o show foi no ano de 2000 - época em que eu tinha tenros treze anos de idade. Conhecia o Yo La Tengo graças ao programa Lado B da MTV (apresentado pelo Kid Vinil) e vivia baixando algumas MP3s pelo Napster (depois pelo Kazaa), mas não tinha idade suficiente para freqüentar os bares de rock de Maringá, que nesta época estavam numa fase áurea.

Mas daí parei pra pensar: sem querer romantizar o passado não vivido (como os que sonham hoje com o movimento hippie), mas a impressão que dá é que Maringá já foi uma cidade melhor em termos musicais, em especial com relação ao rock.

Maringá entre 1999 e 2002 viveu uma fase única, que fez jus ao título de Cidade Canção. Existiam diversos bares voltados à boa música e produtores empenhados em trazer shows diversificados para a cidade. E isto não só no rock, mas também na MPB.

Outro dia conversava no boteco com o Fabiano, historiador e professor do Nobel, sobre como as coisas mudaram em Maringá. Constatamos que o acesso ao rock alternativo (também chamado de indie rock) está paradoxalmente mais fechado do que antes, mesmo com os supostos benefícios da revolução tecnológica provocada pela internet.

Nessa época, ele foi ao show de bandas que ainda estão em atividade, como o Yo La Tengo (aclamada banda de New Jersey, presente há 26 anos no indie rock), Superchunk (outra lendária banda norte-americana) e a incrível Jon Spencer Blues Explosion (banda nova-iorquina que mistura punk, blues e garage rock). Tudo isso aqui: em Maringá, no interior do Paraná.


Quando foi a última vez que Maringá recebeu atrações internacionais renomadas no rock? Difícil dizer. Talvez o Nazareth (banda que fez seu nome no hard rock dos anos setenta, mas que hoje está em situação musical precária), na Expoingá, só para se ter noção do nível em que chegamos.

É certo que Maringá faz parte da rota nacional do rock independente. Tenho sempre comentado e elogiado a iniciativa dos que movimentam a cena em Maringá, trazendo bons shows para a cidade, mas parece que a cada dia o rock está mais desvalorizado.

Não vou adentrar na discussão dos possíveis fatores que levaram a esse cenário, pois o assunto é multi-complexo (e eles já foram objeto de análise em outros textos do blog).

A questão não é sobre a existência de bandas locais de rock, pois Maringá vive um momento muito bacana (e talvez inédito) de bandas autorais produzindo seu próprio material de forma independente.

A questão é o perfil da cidade e o acesso que ela proporciona.

Se Maringá já foi conhecida, no início desta década, por trazer grandes nomes do rock para shows sempre lotados (li duas entrevistas, uma do Ira Kaplan e outra do Jon Spencer, ambos elogiando o público maringaense), hoje ela é conhecida por ser o epicentro da música sertaneja na região Sul-Sudeste.

E nenhum empresário irá se aventurar em ressuscitar locais como o Caixa d'Água, Aeroanta ou Dalata - casas que não freqüentei. Pois hoje o que dá dinheiro é sertanejo. O agronegócio calou o rock em Maringá, que se mantém tal como um MR-8, subversivo e às sombras, sem qualquer apoio da administração pública.

Mas posso estar enganado. E até espero que sim.

Talvez não seja um fato sócio-cultural local, mas algo que pode ser constatado em outras cidades.

Quem sabe os conterrâneos mais experientes possam contribuir para o debate, trazendo informações e constatações sobre o que foi o rock em Maringá na virada de 90 para 2000 e o que é o rock independente na cidade hoje.

Mas uma coisa é certa. Maringá seria uma cidade muito mais interessante se tivesse, junto com o número atual de bandas autorais e shows de bandas nacionais, shows internacionais de novos nomes da música.

9 comentários:

  1. Perguntei sobre o show pq na época eu tinha a mês
    a idade mas dei um jeito de assistir (provavelmente arrumando alguma desculpa pra mãe e dormindo na casade um amigo). O show se deu no Caixa d'Água que na época já devia se chamar Aqualung (em clara alusão ao Jethro Tull) e foi incrível (pelo menos é como eu o caracterizo hoje, já que na época eu pouco conhecia a banda).
    Mas concordo com vc quanto as mudanças em Maringá, nunca se viu tantas bandas locais criando, tantos fãs de sertanejo e tão pouco interesse em rock de verdade por parte dos empreendedores musicais (se o Tribos fechar, sobra o que?).
    Bom seria se tivéssemos bandas locais aliadas a atracões internacionais, aí poderíamos nos orgulhar do cenário musical da cidade que tem já tem um nome bem sugestivo.

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  2. (mesma idade) maldito corretor automático. Huahuah.

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  3. lembro que nesta época, maringá era referencia nacional do som independente. tinhamos caixa dágua, vivenda, aeroanta, da lata e outros. enfim, todo finald e semana, tinhamos pelo menos umas cinco bandas de fora tocando aqui. lembro que, no show do superchunk - no bar da lata - reconheci no meio da galera o guitarrista do planet hemp (que tbm estava bombando na epoca). ele estava vendendo cds de um selo que tinha com uns amigos (surreal!). enfim, nesta época, tinhamos opções de lugares e atrações, pois o público curtia o rock alternativo, fato que nao ocorre hoje, apesar da quantidade abundante de bandas autorais na cidade.

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  4. não lembro das casas de shows maringaenses dessa época, por ter uns 10,11 anos.. mas lembro muito do Kid Vinil falando "GUIDED BY VOICES" categoricamente.

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  5. eu discotequei nesse show do Yo La tengo em Maringá e lembro de uma cena engraçada. Tava ao lado da mesa de som, que foi colocada num palco pequeno no fundo da area de show, rolando as músicas. aí um cara puxou a minha perna e começou a falar em inglês comigo achando q eu fosse da equipe do Yo La Tengo. Ele me deu um CD e falou q era da banda dele, se dava pra dar uma ouvida e dar uma força. Eu respondi: "Pode falar em português comigo q eu não sou da banda..."
    O cara ficou sem graça e foi embora.
    Outra coisa desse show foi que a banda tocou bem baixo. Dava para ouvir tudo certinho e o público colaborou. Quando alguém falava alguma coisa, dava para ouvir.

    E, sobre os comentarios acima, tem muita gente reclamando que rock hoje em Maringá é isso, é aquilo, mas não participa das paradas. Não tem o que reclamar hoje do rock autoral independente. e tem sim varias opções para se ir. é só sair de casa e não ficar vendo a coisa pela internet!

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  6. eu tambem estive nesse show do yo la tengo, lembro que no final dele, os caras da banda ficaram la de papo com o povo no pé do palco. eu pedi uma palheta pra um deles e usei um bom tempo pendurada numa corrente (HAHAHAHAHAHAHAH)
    eu tinha acabado de voltar pra maringa depois de dois anos e meio fora, estava bem alienada dessa forte cena musical. achava que, sei la, era normal sempre ter aquele monte de show e casas de show e sempre muita coisa pra ir e opções. só fui me tocar anos depois quando as pessoas falavam com saudosismo.
    houve um que eu lembro que acho que tambem rolou nessa epoca, que foi o do MAN OR ASTROMAN. queria muito ir, nao rolou porque ainda era uma menina de 16 anos que obedecia os pais.

    e eu concordo com o comentario acima.
    nao moro mais em maringa, mas daqui de outra cidade vejo muita coisa sendo divulgada. e muita coisa LEGAL.
    acho que falta união da galera, união das bandas. eu lembro que em 2002 sempre rolava uns domingos com bandas de metal, grunge, punk, alguma-vertente-do-rock e sempre LOTAVA. era legal ver essa mistura. hoje não vejo mais. ta uma coisa meio segregada.
    e reclamar é facil ne? mas sair e dar oportunidade pra ouvir coisa nova, bandas novas, incentivar e curtir um som bom... isso ninguem quer.


    a proposito, belo blog :)

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  7. hehehe. estive em todos. que cena, que saudade, foram varios, Tsol, agente Orange, Man astroman. esses dois nao na lendaria aqualung, e sim no parque de exposicao. fora a cena em londrina, trazendo grandes nomes internacionais, lemonheads, Buzzococks, Luna, entre outros. caraio. la se vao dez anos. Valeuu

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  8. Sou sortudo! Fui nos três!!! Superchunk no Dalata, Yo la tengo e JSBX no antigo caixa dagua...
    Bom demais!
    No show do Yo la tengo, lembro de ter ficado na fila grandissima, conversando com dois casais um de blumenau outro de curitiba, que tinham vindo só pro show, e que estavam indignados com a pergunta: pq maringá? tamanha era a força da cena na epoca!

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